A intensa repercussão em torno da prisão do ex-Deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) continua a produzir consequências. No Palácio do Planalto, a ordem do Presidente Michel Temer é para que ninguém do Governo se manifeste. E no Congresso foram muito poucos os parlamentares que se animaram a falar em público sobre o assunto.
A cientista política Clarisse Gurgel, da Unirio (Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro), tem, porém, outra visão sobre a prisão de Cunha, determinada pelo Juiz Sérgio Moro na quarta-feira:
"Há, de um lado, uma certa agitação no sentido de se considerar que a prisão de Eduardo Cunha gere uma crença na Justiça, de que está se fazendo justiça, mas eu atentaria para o fato de que é preciso tomar cuidado com certas ilusões", observa a professora da Unirio. "Por exemplo, é bem possível que a prisão de Eduardo Cunha seja uma tentativa de imprimir certa imparcialidade à Operação Lava Jato, e isso legitimar uma movimentação que vai gerar muita tensão – a possível prisão do ex-Presidente Lula."
Clarisse Gurgel continua:
"É preciso também atentar para outro fato: por muitas vezes se disse que Eduardo Cunha era o chefe de uma quadrilha que atuava no Parlamento. Ora, o fato de um chefe ser ou estar preso não significa que a quadrilha parou de atuar, porque logo surgem outros chefes. Então, atentar para isso significa que, mesmo estando preso, Eduardo Cunha ainda tem um papel de destaque nesta quadrilha. Esse papel hoje é o de servir de ovelha desgarrada, como se diz popularmente no Brasil. A ovelha desgarrada é aquela que é deixada de lado para enfrentar possíveis perigos, de modo que o restante do gado possa seguir seu curso sem grandes desgastes. Então, a prisão de Cunha significa uma forma de revitalizar o modo de fazer política."
Ainda de acordo com a Professora Clarisse Gurgel, "a prisão de Eduardo Cunha é uma espécie de antessala para a possível expedição do mandado de prisão contra o ex-Presidente Lula, e atenua a impressão de que a Operação Lava Jato foi montada com fins políticos para destruir o PT".
Em relação a uma possível delação premiada de Eduardo Cunha e às consequências que ela poderá provocar, a cientista política entende que a questão precisa ser tratada com cautela:
"Há limites para a delação premiada. Em casos como o de Eduardo Cunha, ela poderá chegar não só aos políticos como também aos grandes empresários. E são estes empresários que, com seu capital, fazem o Brasil funcionar."
Nesta quinta-feira, 19, Eduardo Cunha recebeu a visita do advogado criminalista Marlus Arns, contratado pelo ex-parlamentar para assessorá-lo no termo de colaboração (delação premiada) que pretende prestar aos procuradores da Operação Lava-Jato em Curitiba. Marlus Arns, considerado especialista em tratativas e orientações de delações premiadas, assistiu os executivos da empresa Camargo Correa, também presos nesta Operação.
Ao deixar a sede da Polícia Federal em Curitiba, onde Eduardo Cunha está preso desde quarta-feira, o advogado Marlus Arns disse aos jornalistas que vai impetrar habeas corpus em favor do ex-deputado junto à 4.ª Região do Tribunal Regional Federal, que tem jurisdição sobre o Estado do Paraná.