No final de outubro de 2016, um acontecimento chamou a atenção de muitos: a visita realizada pelos chefes ministeriais japoneses ao Santuário de Yasukuni, dedicado aos soldados mortos na guerra. Em 19 de outubro, o Santuário foi visitado pelo ministro dos Assuntos Internos japonês, Sanae Takaichi, e pelo ministro da População, Katsunobu Kato. A China e a Coreia do Sul logo expressaram seu protesto.
A visita dos políticos japoneses ao Santuário Yasukuni traz à tona todas as lembranças de uma guerra passada e também o desenvolvimento – presente e atual – das forças armadas do Japão. Pelo visto, a China teme que o Japão possa pouco a pouco se tornar um país forte na área militar.
O colunista da Sputnik Japão, Dmitry Verkhoturov, ao estudar este assunto, frisa:
“Se considerarmos a transformação gradual das forças de autodefesa japonesas no exército, então, em minha opinião, o perigo deste processo é muito exagerado. Em primeiro lugar, não nos esqueçamos de que as forças de autodefesa do país, em um sentido puramente militar, têm de ser capazes de contra-atacar para derrotar o inimigo, que iniciou as hostilidades. Seguindo esta linha, o desenvolvimento do exército, inclusive seus componentes naval e aéreo (Japão tem que defender não só o seu território, mas também as águas que o cercam), parece bem apropriado.”
Em segundo lugar, diz o analista, passados setenta anos após a Segunda Guerra Mundial, a posição do Japão mudou. Ele está cercado por países militarmente fortes. Rússia, China, Coreia do Sul e Coreia do Norte têm forças armadas poderosas. Outros países do Pacífico podem recorrer aos aliados mais preparados militarmente. Este fato faz com que qualquer plano relacionado à realização de guerra agressiva, caso parta do Japão, possa ser considerado um perigo para nação japonesa. Simplesmente, o Japão não é capaz de atacar um país vizinho, pois as chances de retaliação são grandes, incluindo o uso de armas nucleares.
Em terceiro lugar, uma grande guerra exige matérias-primas e petróleo, coisas que o Japão não possui. Vale lembrar que o fornecimento por transportes é muito vulnerável, como foi durante a última guerra.
Estes argumentos somente reforçam a incoerência por trás das alegações sobre a intenção de militarização do Japão.
Voltemos então à homenagem às vítimas da guerra e à visita ao Santuário. Primeiro, é preciso frisar que as declarações chinesas e sul-coreanas são, de fato, um ato de intervenção nos assuntos internos do Japão. Por outro lado, o Japão não especifica quais santuários a China e a Coreia do Sul podem visitar.
Dmitry Verkhoturov destaca que, para o Japão, a guerra só trouxe prejuízos: foram adotadas políticas agressivas, bens materiais foram reduzidos a cinzas, milhares de pessoas ficaram feridas e milhares morreram, vítimas de bombardeamentos atômicos ou não.
«Na minha opinião, os japoneses já pagaram pelas agressivas aspirações do seu governo», diz o autor.
“No santuário Yasukuni, onde há cerca de 2,5 milhões de placas com nomes dos soldados, apenas 14 nomes são de pessoas que foram condenadas pelo Tribunal como criminosos de guerra. Na verdade, as exigências da China e Coreia do Sul criminalizam soldados e oficiais mortos do exército japonês sem nenhuma sentença judicial. Isto, claro, é inaceitável. Que eu saiba, não existe nenhum documento que proíba instalar lápides para pessoas condenadas por crimes de guerra. Em qualquer caso, a questão cabe à jurisdição japonesa”, conclui o autor.