Dizer que Japão está se militarizando é muito exagerado

© AFP 2023 / Yoshikazu TsunoPadres japoneses saindo do Santuário de Yasukuni
Padres japoneses saindo do Santuário de Yasukuni - Sputnik Brasil
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O colunista da Sputnik Japão, Dmitry Verkhoturov, apresenta quatro motivos que reforçam a incoerência por trás das acusações chinesas e sul-coreanas contra o Japão, interligando-os com a herança pós-guerra japonesa.

No final de outubro de 2016, um acontecimento chamou a atenção de muitos: a visita realizada pelos chefes ministeriais japoneses ao Santuário de Yasukuni, dedicado aos soldados mortos na guerra.  Em 19 de outubro, o Santuário foi visitado pelo ministro dos Assuntos Internos japonês, Sanae Takaichi, e pelo ministro da População, Katsunobu Kato. A China e a Coreia do Sul logo expressaram seu protesto.

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No entanto, a atitude chinesa e sul-coreana não pode ser considerada como escândalo. É, de fato, uma resposta habitual por parte dos dois países. Difícil seria dizer quantas vezes eles assumiram tal postura.

A visita dos políticos japoneses ao Santuário Yasukuni traz à tona todas as lembranças de uma guerra passada e também o desenvolvimento – presente e atual – das forças armadas do Japão. Pelo visto, a China teme que o Japão possa pouco a pouco se tornar um país forte na área militar.

O colunista da Sputnik Japão, Dmitry Verkhoturov, ao estudar este assunto, frisa:

“Se considerarmos a transformação gradual das forças de autodefesa japonesas no exército, então, em minha opinião, o perigo deste processo é muito exagerado. Em primeiro lugar, não nos esqueçamos de que as forças de autodefesa do país, em um sentido puramente militar, têm de ser capazes de contra-atacar para derrotar o inimigo, que iniciou as hostilidades. Seguindo esta linha, o desenvolvimento do exército, inclusive seus componentes naval e aéreo (Japão tem que defender não só o seu território, mas também as águas que o cercam), parece bem apropriado.”

Em segundo lugar, diz o analista, passados setenta anos após a Segunda Guerra Mundial, a posição do Japão mudou. Ele está cercado por países militarmente fortes.  Rússia, China, Coreia do Sul e Coreia do Norte têm forças armadas poderosas.  Outros países do Pacífico podem recorrer aos aliados mais preparados militarmente. Este fato faz com que qualquer plano relacionado à realização de guerra agressiva, caso parta do Japão, possa ser considerado um perigo para nação japonesa. Simplesmente, o Japão não é capaz de atacar um país vizinho, pois as chances de retaliação são grandes, incluindo o uso de armas nucleares.
Em terceiro lugar, uma grande guerra exige matérias-primas e petróleo, coisas que o Japão não possui. Vale lembrar que o fornecimento por transportes é muito vulnerável, como foi durante a última guerra.

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Como último motivo pode-se salientar que o período pós-guerra japonês beneficiou muito mais os empresários japoneses do que seus generais. A escala da atual influência econômica e cultural japonesa é muito maior da que os generais japoneses da Segunda Guerra Mundial poderiam esperar nos seus sonhos mais otimistas. O Japão é capaz de obter tudo o que precisa para seu progresso através de meios puramente pacíficos. Por exemplo, se as negociações na área de cooperação econômica com a Rússia forem bem-sucedidas, o Japão terá acesso às enormes reservas de matérias-primas e recursos energéticos.

Estes argumentos somente reforçam a incoerência por trás das alegações sobre a intenção de militarização do Japão.

Voltemos então à homenagem às vítimas da guerra e à visita ao Santuário. Primeiro, é preciso frisar que as declarações chinesas e sul-coreanas são, de fato, um ato de intervenção nos assuntos internos do Japão. Por outro lado, o Japão não especifica quais santuários a China e a Coreia do Sul podem visitar.

Dmitry Verkhoturov destaca que, para o Japão, a guerra só trouxe prejuízos: foram adotadas políticas agressivas, bens materiais foram reduzidos a cinzas, milhares de pessoas ficaram feridas e milhares morreram, vítimas de bombardeamentos atômicos ou não.

«Na minha opinião, os japoneses já pagaram pelas agressivas aspirações do seu governo», diz o autor.

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Os soldados e oficiais, cujos nomes estão escritos nas placas do Santuário, cumpriam ordens e pagaram com suas próprias vidas. Seria imoral atribuir-lhes responsabilidade pela política do governo e crimes de responsabilidade de terceiros. Digamos, a União Soviética que sofreu muito com a guerra não costumava chamar de nazistas todos os soldados alemães: foram condenados somente aqueles que participaram pessoalmente do planejamento e realização de crimes.  

 “No santuário Yasukuni, onde há cerca de 2,5 milhões de placas com nomes dos soldados, apenas 14 nomes são de pessoas que foram condenadas pelo Tribunal como criminosos de guerra. Na verdade, as exigências da China e Coreia do Sul criminalizam soldados e oficiais mortos do exército japonês sem nenhuma sentença judicial. Isto, claro, é inaceitável. Que eu saiba, não existe nenhum documento que proíba instalar lápides para pessoas condenadas por crimes de guerra. Em qualquer caso, a questão cabe à jurisdição japonesa”, conclui o autor.

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