Aos esforços do governo de Minas e do governo federal, diversas instituições e voluntários acorreram de todas as partes do Brasil para o local da tragédia. Uma das primeiras, como sempre, foi a Cruz Vermelha Brasileira.
Anete Teixeira, coordenadora do Departamento Nacional de Voluntariado da Cruz Vermelha Brasileira, lembra com emoção a força da mobilização não só daquele, como dos dias subsequentes. O envio de doações e a chegada de voluntários e brigadistas aumentava à proporção em que o tsunami de lama consumia tudo à volta, espalhando-se para além das fronteiras de Minas até atingir o Espírito Santo para finalmente desembocar no Atlântico dias depois. O distrito de Bento Rodrigues, situado a 2,5 quilômetros da barragem, foi o primeiro a receber o impacto. Uma onda de mais de 10 metros de altura se abateu sobre o distrito, destruído em pouco mais de 10 minutos.
"A gente coloca sempre que a Cruz Vermelha é a primeira a chegar e a última a sair. Logo no início, com toda aquela comoção, com as pessoas sem saber exatamente o que fazer, os jipeiros que haviam sido mobilizados na tragédia serrana no Rio de Janeiro — as fortes chuvas em janeiro de 2011 deixaram um rastro de destruição e 506 mortes nos municípios de Petrópolis, Teresópolis, São José do Vale do Rio Preto, Nova Friburgo, entre outros — se deslocaram para lá e ajudaram nos trabalhos de resgate num primeiro momento. Depois continuaram auxiliando o Corpo de Bombeiros, a Defesa Civil e também levando água e alimentação para pessoas em áreas de difícil acesso."
Anete lembra que a Cruz Vermelha está presente em 22 estados brasileiros e muitas filiais encaminharam água, cesta básica, roupas e até rações para animais. Durante os seis primeiros meses, a Cruz Vermelha disponibilizou para os municípios em torno de 2 milhões de litros de água.
"No início de dezembro, um grupo do órgão central do Rio passou por 23 municípios da bacia do Rio Doce, verificando quais as necessidades das pessoas para que se montasse um plano, e em todos eles as pessoas sempre pediam água, e isso é uma realidade até os dias de hoje."
O município de Barra Longa, que depois de Bento Rodrigues foi um dos municípios mais atingidos, tem dois subdistritos — o de Gesteira e o de Barretos, também bastante atingidos. A coordenadora da Cruz Vermelha diz que eles têm problemas sérios de abastecimento, porque eram abastecidos pelo Rio Doce. Alguns que não eram abastecidos pelo Rio Doce, mas pelo Santo Antônio, não tiveram tanto problema de água.Em Belo Oriente e Periquitos, dois distritos, segundo a coordenadora têm situação muito complicada. A água que está sendo liberada causa problemas alérgicos, dá coceira, diarreia.
"Efetivamente não é uma água própria. Ela foi sendo liberada para as pessoas tomarem banho. Não havia recomendação que eles não bebessem a água, mas nem sempre foi fornecido água suficiente para as pessoas cozinharem e beberem. As pessoas tomavam banho e ficavam com a pele brilhando com restos de minério. Isso seis meses depois do acidente."
Passados 12 meses, o Departamento de Voluntariado da Cruz Vermelha vai retornar a todos esses municípios. Está sendo feito um levantamento para identificar quais são as necessidades efetivas das pessoas, se prosseguirá a doação de água ou de outro tipo, como doação de gêneros alimentícios.
"Fim de ano é um período muito difícil para essas pessoas. Em Bento Rodrigues, as pessoas ainda estão em hotéis, procurando casas, alguns já receberam, outros não. É preciso reconstruir um outro distrito."