Segundo dados da Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental de São Paulo (CETESB), nos anos 80, cerca de 30 mil toneladas de poluentes eram lançadas por mês em Cubatão, desaparecendo com os peixes e pássaros, pois os animais não conseguiam se reproduzir ou viver no local por conta dos elevados níveis de poluição.
Para a população, os problemas de saúde na ocasião também eram alarmantes. Cubatão chegou a ser líder em casos de problemas respiratórios no Brasil.
A partir de 1983 foi implantado um plano de recuperação ambiental na cidade. O trabalho de regeneração da região, no entanto, acontece até hoje. Conforme pesquisa realizada pela Faculdade de Medicina da USP, em maio deste ano Cubatão ainda têm índices de poluição acima do recomendado pela Organização Mundial de Saúde. No Estudo, Cubatão registrou 60 microgramas por metro cúbicos de material particulado (MP) 10. Segundo a OMS, o limite aceitável é de 20 microgramas.
Para ajudar a melhorar a qualidade do ar da cidade, voluntários estão realizando mutirões para reflorestar o Vale da Morte, através do plantio de árvores nas áreas mais degradadas do município, com o bairro Jardim Casqueiro, em Cubatão.
Em entrevista exclusiva para a Sputnik, o pesquisador e engenheiro ambiental, Gabriel Estevam Domingos, diretor-executivo da GED Inovação, empresa premiada na área de meio ambiente e organizadora do projeto, contou que a ação de recuperar áreas de Cubatão se intensificou após o último balanço realizado pelo Observatório do Clima em outubro deste ano, revelando que as emissões brutas de gases do efeito estuda cresceram 3,5% no Brasil em 2015 em relação a 214, e que o desmatamento foi o maior responsável pelo aumento da taxa, contrariando a tendência de queda no lançamento de poluentes no país. "Esse projeto surgiu com a necessidade de minimizar os impactos causados pelas pessoas e pelas empresas no meio ambiente de uma forma geral. Temos dados recentes da poluição atmosférica no Brasil que cresceu 3,5%, então é um projeto que visa o reflorestamento em áreas degradadas."
Para realizar a recuperação da região atingida, o pesquisador explicou que é feito um mapeamento da área a ser reflorestada e há ainda a preocupação de que sejam árvores frutíferas para gerar alimento para os animais do local. "Nós mapeamos áreas degradadas como em Cubatão, como na Amazônia, como no entorno do Cinturão Verde das represas aqui, especialmente do sistema Cantareira e plantamos árvores nativas típicas daquela região. Nós estamos indo para o quarto mutirão, sendo que o primeiro em Cubatão, onde já estamos com quase 4 mil mudas plantadas."
Segundo o engenheiro, até hoje Cubatão paga por todo o crescimento industrial que obteve, ao ser a primeira cidade industrializada do país.
"Já se melhorou muito, em 1992 Cubatão ganhou o selo da ONU de cidade símbolo mundial de recuperação ambiental, participou da ECO 92, no entanto, há muito ainda o que se fazer há passivos desde a Rhodia (fábrica de pesticidas), áreas contaminadas, que não se pode utilizar para nada e ultimamente temos acompanhado um índice de particulado da atmosfera um tanto quanto elevado, mesmo em período de uma conjuntura econômica de recessão que estamos vivendo, a produção industrial caiu. Portanto, apesar de ter sido uma cidade que parcialmente se recuperou notamos que ainda uma contaminação atmosférica bem significativa."
O pesquisador destacou ainda a importância da participação da sociedade, especialmente dos jovens que nunca tiveram contato com a terra no trabalho de reflorestamento que vem sendo realizado através do projeto, além de conscientizar a população como ser também poluidor.
"Este é o propósito. Nós atribuímos muito essas questões ambientais aos nossos gestores públicos, as indústrias, mas todos nós cidadãos temos uma parcela de contribuição para o clima, de uma forma geral. Nossas ações antrópicas também geram carbono. Cabe a nós contribuirmos também com nossa parte. Nós fazemos essas ações e temos tido resultados fantásticos. É criança que tinha mexido com terra na vida, e conseguir explicar conceitos básicos de fotossíntese, de ecologia, sobre a importância da preservação."
Para saber quantas mudas de árvores devem ser plantadas para compensar a emissão de CO2 de uma pessoa na atmosfera, a empresa GED Inovação lançou em setembro, um aplicativo que diz quanto a pessoa emite de carbono e como compensar esse prejuízo em mudas. Através do 'Carbon Z', os usuários vão podem utilizar os índices para consulta ou pagar para que o pesquisador e sua equipe plantem as mudas.
"No dia da árvore, dia 21 de setembro, nós lançamos um aplicativo chamado Carbon Z, gratuito, que está disponível na linguagem Android, que ele serve para calcular a pegada de carbono das pessoas. A pessoa baixa, responde suas perguntas rotineiras, como o tempo de transporte que ela usa, o quanto de água gasta, energia elétrica, e isso gera um coeficiente de carbono que ela emite na atmosfera. Gera-se uma conta no final de quantas mudas, ela precisa plantar para neutralizar esse carbono."
O especialista em meio ambiente também falou sobre a participação do Brasil dentro do Protocolo do Clima da ONU, e as metas de redução na emissão de gases do efeito estufa até 2030. Para Gabriel, o país ainda está caminhando de forma muito lenta para conseguir atingir as metas prometidas no Acordo da Cop 21. "Apesar de terem feito um acordo que países em desenvolvimento tenham um tempo maior para se enquadrar nas metas, eu acho que estamos muito insipientes ainda. Você vê o grau de desmatamento da Amazônia, esse dado que o Brasil aumentou o nível de carbono na atmosfera, eu acho que temos que começar a nos mobilizar, porque senão não vamos conseguir atingir essa meta, da mesma forma como as outras metas não foram atingidas."