O número de mortos na Síria, no período, foram contabilizados pelo Observatório Sírio de Direitos Humanos. Já as mortes computadas no Brasil dizem respeito à homicídio doloso (quando há intenção de matar), latrocínio, lesão corporal seguida de morte e decorrentes de intervenção policial. Apenas no ano passado morreram 58.383 brasileiros, o que dá uma pessoa assassinada no país a cada nove minutos. Foram 28,6 pessoas vítimas a cada grupo de 100 mil habitantes. As mortes resultantes de ação policial, com a taxa de 1,6, superam as da África do Sul (1,1) e de Honduras (1,2), considerado um dos países mais violentos das Américas. Do lado das forças de segurança, os números também impressionam. O total de policiais vítimas de homicídios em serviço e fora do horário de expediente chegou a 393 em 2015.
Os estados do Nordeste ocupam hoje as maiores taxas de assassinato. Sergipe (57,3 mortes a cada grupo de 100 mil), seguido por Alagoas (50,8/100 mil) e Rio Grande do Norte (48,6/100 mil). Os estados com as menores taxas foram São Paulo (11,7), Santa Catarina (14,3) e Roraima (18,2). Segundo o anuário, a maioria dos estados que têm programas de redução de homicídio viu as taxas diminuírem no período, como o Rio de Janeiro. Apesar de continuar um dos estados mais violentos da federação, o número de assassinatos no estado recuou 12,9% de 2011 para cá.
Em entrevista à Sputnik Brasil, José Augusto Rodrigues, professor de Sociologia da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), diz que não faz muito nexo comparar o número de mortes violentas no Brasil e na Síria nos últimos anos.
"Quando se trata de pensar em homicídios ou mortes violentas, a gente sempre leva em consideração que essas estatísticas necessariamente precisam ser ponderadas pelo tamanho da população. O fato de que morrem tantos na Síria e tantos no Brasil é muito relativo. Isso não diminui em nada, porém, o número alarmante do morticínio no Brasil. As mortes violentas nos últimos anos se deslocaram dos estados do Sudeste para os do Nordeste, onde, até por uma falta de estrutura muito significativa, os governos não têm muito como lidar com essa criminalidade violenta."
Rodrigues observa que São Paulo, embora seja um estado extremamente violento, tem conseguido, ao longo dos últimos anos, reduzir significativamente o homicídio ponderado por 100 mil habitantes.
"A diferença (em relação ao Nordeste) mostra como algumas atividades reprimidas no Sudeste deslocam suas bases operacionais para o Nordeste, e como falta a esses estados a capacidade operacional para fazer frente à epidemia de homicídios que envolvem tráfico de drogas, tráfico de armas e demais formas de crime organizado."
Na análise do professor, essas mortes não são produzidas de maneira aleatória. Segundo ele, uma boa parte desses homicídios é resultado de uma ação voluntária de grupos criminosos organizados, e tem mais a ver com seus interesses, seus domínios territoriais do que com uma suposta conflitualidade social. A expansão dessas redes criminosas pelo Nordeste seria uma variável muito mais significativa para compreensão da explosão da letalidade do que a crise ou a bonança sócio-econômica do país.
"O maior número de mortes em confrontos com a polícia se baseia em um problema praticamente insolúvel, que é o modo de enfrentar os grupos que traficam drogas. A longo prazo, todo mundo sabe, a única solução para o problema das drogas é a sua legalização, mas no curto e médio prazo a única consequência da expansão do consumo do tráfico de drogas vai ser, inevitavelmente, uma pilha de cadáveres no meio da rua, e não há nada que se possa fazer em relação a isso. Cadáveres dos dois lados. É uma guerra sem muito nexo, mas encontrar uma guerra com nexo é uma atividade muito complexa."