Trump pode ajudar a sair do impasse na Síria, mas 'o diabo está nos pormenores'

© REUTERS / Jonathan ErnstO presidencial republicano Donald Trump, durante o encontro com os eleitores no Colorado, em 18 de outubro de 2016
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O presidente recém-eleito dos EUA, Donald Trump, indicou que lidar com o Daesh será sua prioridade durante a futura administração, levando muitos a crerem que Washington vai desistir do seu apoio tácito aos rebeldes sírios e cooperar com Damasco. O professor Alexander Azadgan disse à Sputnik Internacional que estes são ‘bons sinais’.

"Ele emitiu algumas declarações muito interessantes quanto aos pontos gerais da sua política,  mas como é sabido, o diabo está nos pormenores. Teremos que ver como ele vai implementá-los na prática, inclusive as generalidades das quais ele falou", disse Azadgan, o professor da Gestão Global Estratégica e Economia Política Internacional, em uma intrevista à Sputnik Internacional.

"Estes são bons sinais. Entretanto, não basta somente falar que tenciona combater [o Daesh]. Todo o mundo está combatendo [o Daesh], até Washington está combatendo [o Daesh]", frisou.

O analista incitou os legisladores de Washington a 'mudar seu vocabulário' quanto à Síria, especialmente no que se trata dos rebeldes.

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"Tal coisa como rebeldes sírios não existe. Temos de jogar fora [esta denominação] do nosso vocabulário. O que existe são mercenários, wahhabitas malucos de todo o mundo, do Qatar, Kuwait, Arábia Saudita e países do Golfo Pérsico, em particular. Eles não são sírios, nem rebeldes. Eles são terroristas e homens selvagens."

Trump, por sua vez, também parece ter questionado o conceito na semana passada, quando falou que "agora estamos apoiando rebeldes que lutam contra o governo, mas não fazemos ideia de quem eles são."

Azadgan se mostrou preocupado com o fato de Washington não ter estado disposto a ouvir a opinião dos outros países sobre a resolução da crise síria.

"Não acho que Washington tenha intenção de fazer compromissos ou conduzir algum tipo de negociação frutífera. Acho que eles simplesmente querem fazer tempo. Cada vez que Washington diz que vai negociar, eles criam uma operação de bandeira falsa, como por exemplo os bombardeamentos dos comboios sírios ocorridos dois meses atrás”, disse.

"Não acho que eles estejam de qualquer maneira interessados na paz. Eles pretendem prolongar este conflito… É muito perigoso. Tanto mais que a guerra, mesmo sendo planejada, nunca dá certo", sublinhou o acadêmico. 

Falando disso, o analista se referiu ao ataque contra os comboios humanitários da ONU em meados de setembro, uma semana depois de o cessar-fogo mediado por diplomatas russos e norte-americanos ter entrado em vigor. O incidente deu-se perto de Aleppo, tendo os EUA logo atribuído a culpa pelo ataque à Rússia. O Ministério da Defesa russo apresentou informação detalhada, refutando as suspeitas. 

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Azadgan sugeriu que a política externa de Washington talvez mude quando Trump assumir suas funções.

"Podemos supor que, talvez, Washington tenha entendido que estas políticas são insustentáveis e faça algumas mudanças na sua politica, salvando a dignidade do país," adiantou.

O analista também fez comparação entre a atual situação na Síria com a da Sérvia um século atrás, dizendo que estamos em uma fase perigosa em que as grandes potências assumem posições diferentes em um conflito local, o que pode ter impacto global no mundo. O fato de Trump aparentemente  estar disposto a limitar o envolvimento dos EUA nos assuntos políticos fora do país é um sinal muito bom.”

"Se em Washington houver mais cabeças frias, se as pessoas se expressarem a favor de um modelo suave de isolacionismo, isto contribuirá para a paz geral. O que é ainda mais importante, isto é bom para os contribuintes norte-americanos, cujas contribuições foram  roubadas pelos legisladores, analfabetos, imperialistas e hegemônicos, para depois serem usadas no Oriente Médio", concluiu.

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