Editora da The Nation: EUA se desonraram, 'a mão de Moscou' não tem nada a ver com isso

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As eleições nos EUA se realizaram três semanas atrás, mas a mídia local continua publicando declarações sobre a "intervenção russa" nos "processos democráticos" da América, escreve a editora da revista The Nation Katrina vanden Heuvel em um artigo para o jornal The Washington Post.

O diretor da Agência de Segurança Nacional dos EUA, Michael Rogers, comentando os resultados das eleições, mencionou as "ações conscientes de um certo Estado para atingir um objetivo específico", e a candidata do Partido Verde, Jill Stein, pediu oficialmente às autoridades para realizarem a recontagem dos votos em Wisconsin, se referindo aos relatos de um possível arrombamento de sistemas de votação por hackers estrangeiros.

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O estado-maior de Hillary Clinton segue a mesma linha, embora um dos juristas da equipe democrata diga que eles foram incapazes de encontrar evidências "suficientes para o início de um inquérito judicial" ao arrombamento dos sistemas de votação por pessoas externas. A especialista lembra que no próprio Washington Post saiu material muito duvidoso sobre uma "campanha avançada de propaganda russa". O artigo afirma que Moscou "influenciou o resultado das eleições nos Estados Unidos", mas como fonte dessas "revelações" figura uma organização que insiste em guardar seu anonimato e que constrói conclusões com base em uma metodologia estranha.

No entanto, continua vanden Heuvel, se a Rússia realmente se envolveu no decorrer das eleições norte-americanas, qual seria o propósito de tal intervenção? O próprio Vladimir Putin, aliás, chama tais suposições de manifestação de "histeria", os especialistas em segurança cibernética dizem que não existem fortes evidências da culpa de Moscou.

A revista The Economist afirma que o principal "propósito do Kremlin" era desacreditar as instituições democráticas — as eleições, a liberdade de expressão, bem como desferir um golpe demolidor na reputação de ambos os candidatos. Para os jornalistas da publicação britânica, em geral, os "motivos de Moscou" se reúnem sob a bandeira da estratégia de "ataque à reputação da marca".

"Já que usamos a gíria de marketing em relação a eleições democráticas, vamos também pensar sobre qual seria o retorno dos investimentos (ROI, Return on Investmant) supostamente feitos por Putin", ironiza Heuvel. Na verdade, ambos os candidatos usaram seu tempo de antena gratuito (no valor de bilhões) e gastaram mais de um bilhão de dólares para " enfraquecer ao máximo o oponente", principalmente denegrindo. Donald Trump disse que a atual campanha foi "a mais suja" não por causa de qualquer intervenção de Moscou, mas por culpa dos próprios candidatos à presidência.

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O vazamento do correio do Comitê Nacional democrata e do presidente da campanha de Clinton, John Podesta, por sua vez, não revelou ao público americano nada de novo e certamente não "desacreditou" as instituições democráticas. Uma agenda antagonista, de acordo com vanden Heuvel, foi criada pela própria mídia, que preferiu uma ênfase denunciadora no lugar de interpretação de plataformas ideológicas dos candidatos.

"Foram exatamente os jornalistas, e certamente não Putin, que decidiram que o tema das catastróficas mudanças climáticas não merecia nenhuma menção nos debates presidenciais e que às opiniões preocupantes da falcão-Clinton e do furioso Trump devem merecer menos atenção do que o correio de Hillary ou os discursos picantes do republicano", disse a editora.

Também não é culpa de Putin que o sistema eleitoral da "democracia mais forte do mundo" provoque um sentimento de vergonha, porque o voto democrático, pela segunda vez nos últimos cinco, causou a vitória do candidato que não tinha ganho a maioria dos votos. O dinheiro significa para as eleições nos Estados Unidos mais do que em qualquer outra parte do mundo, apenas pela razão de que as eleições norte-americanas são as mais caras, enfatiza vanden Heuvel. Em 2016, as eleições presidenciais e as eleições para o Congresso custaram um recorde de 6,8 bilhões, contudo a participação de 58% dos cidadãos com direito a voto neste ano continua sendo uma das mais baixas entre os países democráticos.

Segundo a especialista, a histeria em torno da "intervenção russa" não é acidental — é dessa forma que os neoconservadores e liberais, que defendem a intervenção na política interna de outros países, promovem a agenda de uma nova Guerra Fria com a Rússia.

"Não é preciso nenhumas ações de propaganda da Rússia para entender que as eleições norte-americanas foram organizadas de forma vergonhosa. Os líderes de ambos os partidos, se eles estão pelo menos um pouco preocupados com a situação no país, teriam de iniciar as reformas do sistema e da legislação eleitoral. E não são precisos hackers russos para desacreditar a liberdade de imprensa — a própria mídia dos EUA se encarrega disso produzindo artigos superficiais e de má qualidade", enfatiza Katrina vanden Heuvel.

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