A Sputnik Brasil falou com Aleksandr Kirilin, diretor-geral do gabinete de projetos espaciais Progress, para saber qual é o know-how russo nessa área.
Neste ano, a Rússia colocou em órbita o terceiro satélite do grupo de aparelhos espaciais de sensoriamento remoto da Terra Resurs-P. Está planejado o lançamento de mais dois aparelhos em 2018 e 2019 para completar o grupo de cinco satélites.
Segundo Kirilin, é a primeira vez que um grupo desses satélites é colocado em órbita pela Rússia. Os três satélites monitorizam agora a superfície da Terra situada entre as latitudes de 80° Sul e Norte. Os dados obtidos pelos aparelhos são enviados para Terra através de uma frequência de rádio de alta velocidade.
A Rússia é o primeiro país a obter vantagem deste sistema, claro. Os dados obtidos pelos satélites deste grupo já ajudaram a liquidar incêndios e inundações na Sibéria e no Extremo Oriente do país. A Carta Internacional do Espaço e Grandes Catástrofes também usa estes dados.
No momento, a corporação espacial estatal Roscosmos (antiga agência espacial russa) está estudando os mecanismos de promoção do sistema entre clientes comerciais.
Leia os restantes trechos da entrevista para saber como o sistema espacial russo afetará os restantes países do BRICS.
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Sputnik: Que tecnologias exclusivamente russas são usadas no seu funcionamento?
Aleksandr Kirilin: Os aparelhos espaciais Resurs-P Nº 1, Nº 2 e Nº 3 são uns aparelhos únicos para a sua classe. Diferentemente dos seus análogos, que só têm um uso específico, sendo projetados para cumprir uma tarefa concreta e definida, os aparelhos Resurs-P são aparelhos multiusos, que permitem tanto resolver tarefas de observação ultradetalhada, como garantir a possibilidade de obter informações hiperespectrais, além de capturar imagens amplas de alta e média resolução. Isso permite realizar filmagens complexas (filmagem simultânea com uso de três tipos de dispositivos de filmagem), cuja qualidade não cede aos análogos estrangeiros e até, em certas características, os supera.
Para cumprir as novas exigências rigorosas ao sistema de obtenção e conversão de informação, foi preciso criar pelo menos cinco novos elementos e tecnologias cruciais, que incluem dois tipos de fotorreceptores de carga acoplada (CCD) com pausa de acumulação, filtros espectrais multicanais de interferência, novos algoritmos de tratamento digital e compressão de informação, além de interfaces de transmissão rápida de dados com componentes de fibra ótica para uso espacial. Além disso, são inovadoras a própria arquitetura e as soluções técnicas dos esquemas para os blocos pancromáticos e multiespectrais de conversão ótico-eletrônica do sistema de recepção e conversão de informação, e também a tecnologia de criação da zona fotográfica, com um comprimento de linha recorde com base em fotorreceptores dos aparelhos de carga acoplada (CCD) com pausa de acumulação.
S: Como avalia as perspectivas de utilização dos aparelhos Resurs-P por países do BRICS? Que vantagens existem para estes países?
AK: O mercado mundial de serviços prestados por aparelhos de sensoriamento remoto da Terra está hoje em dia em rápido desenvolvimento. Os países do BRICS possuem um alto potencial na área da pesquisa da superfície terrestre. No momento, na órbita da Terra estão funcionando constelações de satélites de sensoriamento remoto da Terra produzidos em países do BRICS: China, Índia e Brasil [além da Rússia].
A capacidade do sistema espacial russo Resurs-P para realizar capturas simultâneas com diferentes tipos de equipamento aumenta drasticamente a eficiência com que é resolvido um vasto leque de tarefas socioeconômicas e científicas na área de monitoramento global e proteção do meio ambiente.
— redução do lapso temporal entre as observações do mesmo território da superfície terrestre e, como consequência, um fornecimento mais rápido do serviço de tratamento dos dados obtidos;
— possibilidade de realizar análises de territórios usando imagens obtidas de vários aparelhos espaciais de sensoriamento remoto da Terra (diversas bandas espectrais, resolução espacial etc.);
— abertura do mercado de dados espaciais a novos atores e, como consequência, redução dos custos para os eventuais consumidores;
— fomento da cooperação entre fornecedores dos serviços e usuários fora de países específicos.
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Em 24 de abril de 2016, Igor Komarov, chefe da Roscosmos, tinha visitado o Brasil para preparar as bases do futuro acordo. Em 31 de outubro, o acordo de cooperação no espaço foi assinado. O documento pode marcar uma nova etapa no programa espacial do Brasil, que já tem um projeto conjunto com a China (CBERS – Satélite Sino-Brasileiro de Recursos Terrestres) e está procurando parceiro para substituir a Ucrânia para lançar foguetes da base de Alcântara.