Entrevistados pela Sputnik, os membros da delegação russa contaram um pouco mais sobre os filmes apresentados no festival, a atual situação do cinema russo e as perspectivas da indústria cinematográfica da Rússia.
Segundo ele, nesses três anos, observaram-se algumas tendências positivas no cinema russo, com o lançamento de cerca de 125 títulos em 2016, com alguns destaques para obras bastante interessantes, tanto para o público geral, como para o mais especializado.
"Apesar da difícil situação econômica, não houve uma diminuição no volume de produções e festivais em nosso país, o que já pode ser considerado como um ponto muito positivo" – destaca.
"Fiquei surpreso por ter sido abordado após a sessão por um grupo de pessoas interessantes, com quem tive uma conversa bastante complexa sobre os temas históricos e artísticos abordados no filme. (…) Estou muito contente com a mostra e me identifiquei bastante com a atmosfera cultural que encontrei por aqui. Foi uma experiência incrível" – revelou em entrevista à Sputnik.
Perguntado sobre a entrada do cinema brasileiro na Rússia, Barshak não hesitou em citar o filme "Cidade de Deus", de Fernando Meirelles, que, na sua opinião, deve ter sido visto por todo e qualquer cineasta de respeito da Rússia, e que apresenta com grande maestria uma realidade única e muito peculiar do Rio.
Também participou da entrevista o ator Maksim Kolosov, que interpreta um dos principais papéis no filme "Lirismos", realizado no formato de pequenas histórias distintas, e que traz um elenco de grandes nomes do novo cinema russo. Em sua terceira vinda ao Rio para a Semana de Filmes Russos, Kolosov destacou a boa recepção do público brasileiro aos filmes do festival.
O ator Kirill Varaksa, protagonista de "Sobre o que os franceses não falam", comentou as frequentes comparações feitas ao seu filme com relação a algumas obras mais recentes de Woody Allen, pelo grande charme e belas imagens com que retrata a cidade de São Petersburgo.
"Mas nós não buscamos Woody Allen. Pelo contrário, tentamos retornar ao nosso cinema soviético. Tentamos não seguir a linha de Hollywood, ou do cinema europeu, mas realizar esse regresso e fazer um filme de bem, sobre pessoas simples. (…) Nosso filme é uma lenda sobre o porquê Napoleão invadiu a Rússia em 1812" – explicou o ator.
Já o cineasta Vladimir Shchegolkov, diretor do filme "Das 5 às 7", que em 2015 venceu o grande prêmio do festival Outono de Amur, na Rússia, abordou o recorrente tema da imposição de blockbusters americanos sobre produções locais, no sentido de como o crescente caráter de entretenimento, ação e efeitos especiais tem cada vez mais forçado diretores autorais a assumir escolhas para competir pelo público nas salas de cinema.
"O maior problema, é que ao fazermos cinema nacional estamos competindo com blockbusters de grande orçamento, levando em conta que o espectador se acostumou ao cinema de entretenimento. Uma ida ao cinema, hoje em dia, é comparável à uma visita ao parque de diversões. As pessoas não vão até lá para pensar, mas para se divertir, e é preciso aumentar cada vez mais a dose de adrenalina. A dramaturgia parece estar migrando para a internet, para o formato de séries".
Por outro lado, ele destacou que também vem sendo observada a tendência de uma certa militância do próprio público pelo cinema nacional, ou até regional, como acontece hoje na região russa de Yakutsk ou em Uganda.
"É muito encorajador isso o que no nosso país é conhecido como o fenômeno do cinema de Yakutsk. O público regional está começando a torcer pelo seu cinema local. As tecnologias têm permitido cada vez mais, mediante vontade, realizar filmes com baixíssimo orçamento, de trabalhar em nome da arte, e não apenas do dinheiro" – destacou o diretor.
Ao fim da entrevista, a delegação russa expressou a grande vontade de novos contatos com realizadores brasileiros e de estreitar cada vez mais os laços entre os cinemas do Brasil e da Rússia, convidando cineastas brasileiros a participar de festivais russos e buscar parcerias de coprodução envolvendo ambos os países.