Entretanto, um gesto pouco amigável do presidente eleito – uma conversa com a chefe da administração de Taiwan, o que não acontecia já há quase 40 anos – se tornou mais uma surpresa pouco agradável para Pequim. Mais cedo, Dalai Lama também expressou sua vontade de se encontrar com Trump.
Dalai Lama é um visitante frequente da Casa Branca. O presidente atual dos EUA, Barack Obama, convidou-o à sua residência por quatro vezes em oito anos. A última vez foi em junho deste ano e provocou um forte protesto de Pequim.
"Estou vendo que há alguns problemas nos Estados Unidos e parto para lá para me encontrar com o novo presidente", destacou o Dalai Lama. Em resposta, Pequim avisou Washington contra quaisquer ações que possam violar a soberania da China e o princípio de "China única" nas relações sino-americanas.
"Penso que Trump é um homem pragmático. Neste contexto, ele parte dos interesses da política externa dos EUA. Agora é muito difícil dizer se a conversa ou encontro de Donald Trump com Dalai Lama terá lugar, porque isto pode significar uma tentativa de exercer pressão suave sobre a China e o seu presidente Xi Jinping", disse.
Na opinião do professor da Universidade de São Petersburgo Aleksandr Sergunin, agora ainda é cedo para falar da política de Trump em relação ao Tibete. Na opinião dele, o assunto do Tibete não terá uma grande importância para Trump.
"Os centros de pensamento que estão por trás de Trump têm uma atitude antichinesa, mas na área do comércio e da geopolítica", disse.
Durante os anos 1960, a CIA fornecia aos separatistas do Tibete até 1,7 milhões de dólares por ano para realizarem operações contra a China, incluindo pagamentos pessoais a Dalai Lama de 180 mil de dólares, o que naquele período era um valor muito grande.
Todos os anos o Departamento de Estado norte-americano divulga relatórios sobre a situação dos direitos humanos no Tibete criticando as autoridades chinesas. Estes relatórios são sempre uma causa de tensões nas relações bilaterais porque, segundo a China, são copiados de um ano para outro e não têm em conta o progresso da situação.
O especialista do Instituto de Relações Internacionais da Universidade de Nanquim, Zhu Feng, disse que não espera um degelo das relações sino-americanas na questão do Tibete.
"Uma das razões para isso é a tradição dos representantes da administração norte-americana e da liderança do país em se focarem no apoio à 'democracia' e 'liberdade religiosa'. Com efeito, isso não está relacionado com a questão do Tibete e é uma ingerência grosseira nos assuntos internos da China", opinou.
É evidente que os especialistas continuarão comparando as somas de ajuda financeira dos EUA ao Tibete. Agora os EUA ocupam o segundo lugar, depois da Índia, em relação ao financiamento dos separatistas. Isso significa que o Tibete ainda está entre os instrumentos que os EUA podem usar contra o gigante econômico da Ásia.