Por outro, 20% da população não têm quase nada, enquanto 7% têm mais dívidas do que renda. Há cada vez mais pessoas que se sentem marginais nesta "festa da vida", o que leva a uma polarização perigosa na sociedade, afirma o cientista Christoph Butterwegge.
O acadêmico frisa que, a seu ver, o desequilíbrio na distribuição de riqueza na Alemanha é mais grave do que na distribuição de renda. É que, mesmo que a fonte de renda desapareça, os bens permanecem. Caso contrário, a situação fica muito mais complicada.
"Na Alemanha há famílias cuja fortuna soma 20-30 biliões de euros. Em tais países como a Ucrânia, Rússia ou Grécia os chamariam de "oligarcas". Na Alemanha, para nivelar a gravidade do problema, os denominam carinhosamente de "empresários familiares". É nas mãos de tais famílias, que são poucas, que está concentrada a riqueza nacional", explica o analista.
Ao contrário, segundo diz o Instituto Alemão de Economia, 20,2% dos cidadãos alemães não têm nenhuns bens, enquanto 7,4% devem mais do que possuem. Se juntarmos estes dois grupos, são quase 30% da população — basta uma demissão ou uma doença grave para estas pessoas caírem na miséria.
"Isto afeta a situação política no país — muitas pessoas deixaram de participar das eleições, isso acontece, primeiramente, com aqueles que recebem prestações de desemprego. Outras, por sua vez, aderem aos partidos populistas de direita e agrupamentos tipo "Alternativa para Alemanha" ou o PEGIDA [Europeus Patriotas contra a Islamização do Ocidente]. É evidente que o descontentamento está crescendo e, acho eu, é bem justificado", partilha o especialista ao analisar a situação atual na sociedade alemã e a compara com a década de 1920, época em que havia incerteza e uma crise política parecida e em que a pequena burguesia escolheu apoiar os nazistas.
O acadêmico destaca que o atual governo de Merkel não parece ser capaz de lidar com a crise por sua abordagem dogmática e basicamente incorreta. Nas situações de crise, as autoridades devem reagir aos sinais da sociedade de modo mais cuidadoso, apoiar aqueles que correm o risco de colapso financeiro, primeiramente através de um sistema fiscal eficiente com impostos progressivos.
Porém, a União Democrata-Cristã se comprometeu a não aumentar os impostos e, consequentemente, os problemas se agudizarão até que esta força política deixe o poder, assegura o especialista.
Claro que tal medida contraditória não poderia ter sido empreendida sem a influência de certos círculos, afirma Butterwegge:
"De costume, os ricaços têm grande influência no poder político. Eles têm lobistas e, deste modo, a oportunidade de influir na política no sentido que lhes convém. Isto também foi evidente na discussão do importo sobre o patrimônio. <…> As pessoas pobres não têm tal oportunidade — elas não dispõem de um poderoso lobby econômico. Quando o vento neoliberal começa a soprar, como recentemente, fica mais fácil para os ricos exercerem pressão sobre os políticos."
Ao traçar uma comparação com outros países, o especialista sublinha que a situação na Alemanha pode ser comparada com a dos EUA e até com tais países como o Brasil e a Colômbia. Estes dois últimos costumam ser referidos pelos alemães como os países onde a desigualdade, o fosso entre pobres e ricos, é enorme.
"Na Alemanha a situação é igual, embora ainda não tenhamos entendido isso", concluiu.