"Estamos provavelmente nos encaminhando para um recrudescimento das incertezas políticas, principalmente com o potencial da Lava Jato de implicar membros do governo e minar sua capacidade de aprovar medidas de ajuste e até a sua própria permanência no poder", sublinha o relatório.
Para o diretor da RC Consultores, José Valter, o Brasil vive um momento político bastante conturbado, com os cenários políticos e econômicos se influenciando mutuamente. "Acho que um alimenta o outro em proporções diferentes. O ambiente político atual influencia negativamente a economia."
Segundo Valter, logo após o impeachment da ex-presidente Dilma, houve uma melhora generalizada dos ânimos. Ao longo dos meses, porém, esses índices de confiança começaram a se deteriorar, e não foi só porque a economia não está reagindo.
"As medidas que eles tomaram já eram de médio prazo. O que fez acontecer essa deterioração nos índice de confiança foi o momento político pelo qual o país passa. Isso pode continuar prejudicando o crescimento porque medidas necessárias passam a não ser tomadas, até por que a gente não sabe até que ponto todo esse processo da Lava Jato vai acabar."
Com referência ao aumento da reprovação do governo Temer detectado pela última pesquisa Datafolha — em julho esse índice era de 30% e em dezembro subiu para 51% —, o diretor da RC Consultores concorda que a desaprovação de fato existiu. Ele observa que a pesquisa mostra até um maior ceticismo da população que prevê dificuldades maiores da economia em 2017.
"Se você for ver as medidas passadas no Congresso, vai ver que a aprovação da PEC 55 foi feita com menos votos de senadores do que no primeiro turno. O problema é que entre o primeiro turno e o segundo turno muitos senadores não apareceram para votar. Isso prova, por mais que o governo esteja dizendo que a votação foi antecipada e eles chegaram atrasados, que não é bem assim. O governo pode começar, com essa deterioração política, a ter mais dificuldades de aprovação dessas agendas que ele tenta colocar, porque de fato cabe discussão."
Segundo Valter, mexer na aposentadoria não é algo elementar em lugar nenhum do mundo. É necessário no Brasil, mas o projeto ainda vai entrar em discussão.
"Olhando de hoje, esse ambiente não tem como melhorar. Vai piorar? Não sei. Mas melhorar não consigo enxergar no curto prazo uma melhora disso."