Durante uma reunião da Assembleia Nacional, o presidente cubano, Raúl Castro, afirmou que ao longo do ano os ritmos de crescimento reduziram em 0,9%. Neste contexto, vale ressaltar a forte influência da queda das exportações de petróleo venezuelanas sobre a economia cubana.
Então, a caneca cubana parece estar meio cheia. Mas será que os planos do ex-revolucionário se realizarão da maneira descrita por ele? Confira as ideias do diretor da Faculdade de Ciências Econômicas e Sociais da Academia Russa de Economia e Serviço Público junto ao presidente da Rússia, Aleksandr Chichin, sobre a questão.
Vida sem 'presentes venezuelanos'
Embora a redução de apenas 0,9% do PIB cubano pareça humilde quando comparada com o colapso brusco da economia venezuelana, há uma dependência direta entre o bem-estar econômico destes países, afirma Chichin ao serviço russo da Rádio Sputnik.
"Por tradição, desde a época de Chávez, o petróleo [da Venezuela] sempre foi 'de graça'. Agora os cubanos são obrigados a utilizar suas próprias forças. Ou seja, com os três principais ramos de produção — exportações de níquel, cana de açúcar e turismo", analisa o especialista.
Ao falar da cooperação com a Venezuela e o provável papel da Rússia nas exportações de petróleo, Chichin afirma que os países continuarão cooperando e Cuba não deixará de receber petróleo cubano com grande desconto, embora, "dentro da Venezuela haja opiniões diferentes quanto ao assunto, já que o país está em uma situação que não se pode dar presentes".
Quanto à Rússia, é pouco provável que ela vire grande parceiro comercial cubano. A única área onde a interação entre os dois países vai diversificar-se é no setor militar, concluiu o especialista.
Há dois passos entre amor e ódio?
Claro que, ao falar de Cuba atual, não se pode esquecer o assunto das relações bilaterais com os Estados Unidos. Após o histórico encontro de Barack Obama com o líder cubano e sua decisão de restaurar as relações diplomáticas, entre as elites cubanas "reina a esperança de que o abrandamento das relações com os EUA ajude [a revitalizar a economia]".
"Acho que este abrandamento terminará em 20 de janeiro, quando Trump tomará posse. Para ele, a questão de direitos humanos em Cuba é crucial, ele encontrou um pretexto para si. Há dois fatores que não se pode contornar — primeiro, o embargo econômico introduzido pelas autoridades norte-americanas, e o fato dos Estados Unidos continuarem possuindo a base militar em Guantánamo, que é um território soberano de Cuba", resume.
Parceiros alternativos
Porém, o mundo não se reduz aos EUA — por exemplo, a União Europeia e a Índia têm mostrado grande interesse em cooperação com Cuba nos últimos tempos. Por exemplo, no ano passado, a Índia investiu 4 bilhões de dólares na "Ilha da Liberdade".
"Os espanhóis esperam muito entrar neste mercado. Eles perderam Cuba já faz mais de um século, mas não deixam de sonhar em voltar. <…> Acho que os turistas espanhóis gostariam de viajar para lá, sem falar das empresas de telecomunicações que se instalariam lá, com certeza", realça o especialista, dizendo que tais tendências chegam a ser visíveis na imprensa espanhola.