A avaliação é de autoridades em Segurança Pública do governo federal sobre a crise ocorrida no Compaj (Complexo Penitenciário Anísio Jobim), em Manaus, no estado do Amazonas. A rebelião, iniciada no domingo, 1 de janeiro, e somente controlada na segunda, 2, terminou com saldo de 60 mortos e outras dezenas de feridos. Este foi considerado o segundo maior massacre de presos no país desde os lamentáveis episódios do extinto Complexo do Carandiru, em São Paulo, no ano de 1992, que resultaram em 111 presidiários mortos.
Finda a rebelião, o Ministro da Justiça, Alexandre de Moraes, que se deslocou de Brasília para Manaus, afirmou que os presos responsáveis pela violência no complexo de presídios da capital amazonense serão transferidos para presídios federais de segurança máxima.
Para o especialista em Segurança Pública, Paulo Storani, esta é uma solução que pode apresentar algum resultado mas não o suficiente para conter a violência entre os presidiários de diferentes facções:
"No curto prazo, quando você desloca ou remove lideranças de facções criminosas, a tendência natural é, primeiramente, o enfraquecimento desta facção. Mas, pouco depois, os criminosos conseguem se reorganizar, estabelecer novas lideranças locais, e isso (a remoção de lideranças) produzirá poucos efeitos. O efeito certo que esta política irá produzir é, infelizmente, uma política de concessões que o Poder Público terá de fazer às novas lideranças para que cessem as hostilidades dentro dos presídios. Isso é o que normalmente ocorre conforme aconteceu em São Paulo e estava prestes a acontecer no Rio. A grande questão que o Poder Público tem de enfrentar, com vigor, é impedir que presos de diferentes facções convivam nas mesmas unidades prisionais, ainda que em galerias distintas. Há sempre o risco de os grupos se encontrarem e, então, o confronto acontece com graves consequências."
Ex-instrutor do Bope (Batalhão de Operações Especiais da Polícia Militar), antropólogo, conferencista e professor de Ciências Policiais na Universidade Cândido Mendes, Paulo Storani sustenta que a hegemonia pela venda desta cocaína mais refinada, procedente do Peru, é apenas um pretexto para deflagrar a verdadeira guerra que ocorre entre organizações criminosas rivais:
"O que alimenta esta rivalidade entre os bandidos é a economia que gira em torno do tráfico internacional de drogas, geradora de intensos lucros. Faz parte deste quadro, de ambição pelo poder, o controle das unidades carcerárias pelas lideranças das facções. E é justamente esta disputa, pelo controle do tráfico e dos presídios, com ameaças, inclusive, aos funcionários do sistema prisional, que alimenta a violência dentro dos estabelecimentos penais."