A manifestação revela as dificuldades que movimentos sociais e centrais sindicais têm enfrentado desde o impeachment da presidente Dilma Roussef e a posse de Michel Temer, a partir de agosto, em construir uma frente única contra as propostas do novo governo. Lula, que esta semana iniciou uma retomada das atividades políticas, com viagens e discursos na Bahia, vem sendo apontado por todas as pesquisas de opinião feitas desde agosto como o nome vitorioso nas próximas eleições presidenciais de 2018. Embora tenha sinalizado que pode voltar a ser candidato, o petista ainda não bateu o martelo sobre o tema. No partido, porém, é grande o movimento para apontá-lo como a melhor opção para a disputa.
Atinágoras Lopes, membro da secretaria executiva nacional da CSP Conlutas, disse à Sputnik Brasil que a linha política da central, desde o ano passado para cá, é lutar para tirar Temer do poder "e todos os políticos reacionários do Congresso".
"A CSP Conlutas sempre se manteve independente e em oposição de esquerda ao governo do PT, aos governos da Lula e da Dilma. A gente sempre combateu o fato de que o movimento sindical se confundiu nos balcões da administração pública e perdeu a independência, daí surgiu a CSP Conlutas. Ontem se deu essa expressão da materialização de um sindicalismo independente: estamos contra o governo atual e o anterior porque ambos administraram com a mesma extrutura macroeconômica, ou seja, a serviço da banca internacional", disse Lopes.
Na opinião do dirigente da CSP Conlutas o impeachment de Dilma foi a concretização de uma opção política histórica.
"Qual a diferença qualitativa da base política do governo da Dilma e a do governo do PT? A base de sustentação do atual governo, à exceção do PSDB e do DEM, regra geral é a mesma base de sustentação dos 13 anos de governo do PT. Tivemos nesses 13 anos Collor de Melo alinhado ao governo petista, Maluf e as figuras tradicionais da 'dita direita clássica' aliadas", afirma Lopes.
Para o sindicalista, a perda de mandato da presidente e da força conjuntural do PT nesse momento se explicam pela ruptura da sua base social-histórica, da classe trabalhadora.
"Não se faria uma manobra parlamentar, não se levaria o impeachment às últimas consequências se houvesse sustentação popular, social e política. O governo da Dilma aprofundou em certa medida os ataques que o Lula também fazia: atacou o PIS dos trabalhadores, restringiu o acesso ao seguro desemprego, atingiu até o seguro defeso dos pescadores artesanais", cita.
Lopes diz ainda que, antes de se chegar a 2018, há uma tarefa imediata a qual a CSP Conlutas insiste com todas as centrais sindicais.
"Dado o grau de crise, é unificar todo mundo para mudança completa desse sistema. As pessoas estão aflitas agora, a classe trabalhadora está sendo demitida das montadoras agora, o ataque à Previdência que está sendo anunciado é para agora. É um equívoco as centrais todas se pautarem por qual vai se nosso candidato. A tarefa é lutar para defender os direitos que estão sendo ameaçados na Previdência e na reforma tabalhista. Temos chamado todas as centrais para construir uma greve geral. Essa é a tarefa histórica do momento do movimento sindical", conclui.