Arquiteto da agenda ucraniana — Joe Biden
Na quinta-feira (12), o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, condecorou Biden com Medalha Presidencial da Liberdade, prêmio civil mais alto do país, por desempenhar um trabalho vitalício na "luta pelo fortalecimento da classe média, por um sistema judicial mais justo e por uma política externa mais inteligente".
Quanto aos países vizinhos da Rússia, realça o colaborador do portal russo Gazeta.ru Valentin Loginov, Biden foi peça-chave na elaboração e implementação da política norte-americana na Ucrânia, especialmente na época da crise política e militar que abalou o país após o golpe de Estado de 2014, causado pelos protestos de Maidan.
Biden visitou a Ucrânia duas vezes a fim de incitar o presidente Pyotr Poroshenko a conduzir reformas políticas e econômicas. Ele também incentivou que o governo ucraniano combatesse mais fortemente a corrupção, incentivo este considerado hipócrita por muitos, já que, segundo a mídia norte-americana (o New York Times), seu filho Hunter, ex-lobista, esteve envolvido em esquemas de corrupção em Kiev.
Biden Junior virou membro do Conselho Executivo da Burisma (empresa petrolífera ucraniana) dois meses após Yanukovych ter sido derrubado. Os procuradores públicos ucranianos acusaram a empresa de estar envolvida em lavagem de dinheiro, mas a administração do procurador-geral "se esqueceu" de mencionar Hunter no processo, supostamente graças ao lobby do vice-presidente.
Em 2016, Biden pressionou Poroshenko para que ele demitisse o procurador-geral Viktor Shokin. "Ele até chantageou o presidente ucraniano ao falar que os EUA não concederiam empréstimo a Kiev, caso recusasse a fazê-lo", frisa Loginov.
"Pyotr, você não receberá seu bilião de dólares", gracejou Biden, falando sobre sua conversa com o presidente ucraniano, relatada no The Atlantic. "Está OK, você pode deixar o procurador-geral no cargo. Mas entenda — não lhe pagaremos se deixá-lo", adiantou.
Biden incentivou Kiev a pôr em prática reformas econômicas, caso contrário, as sanções europeias contra a Rússia seriam aumentadas.
Parece que enquanto a administração de Obama prepara o terreno para a equipe de Trump, "Kiev teme que a nova administração deixe de fazer lobby dos interesses ucranianos".
Afinal, Kiev queria que Hillary Clinton tivesse ganhado as eleições, fato esse nunca escondido por Kiev.
O que se deve esperar do governo Trump?
"Entretanto, apesar de todos os receios dos políticos ucranianos, o vice-presidente eleito de Trump, Mike Pence, tem uma postura… mais dura em relação à Rússia do que Trump", deixando Kiev esperançosa na possibilidade de ele virar o novo lobista dos interesses ucranianos na Casa Branca, acrescentou Loginov.
"De qualquer modo, é cedo demais para fazer quaisquer previsões quanto à interação entre a Ucrânia e a nova administração", ressaltou.
O professor da Universidade Estatal de Relações Internacionais de Moscou, Nikolai Topornin, explicou em entrevista à edição Gazeta.ru:
"Biden tem mais autonomia, já que conhece mais a região. De alguma forma ele influenciou nas decisões de Obama ao apresentar os eventos de uma maneira que lhe convinha. Pence não é diplomata ou militar, é pouco provável que demonstre o mesmo grau de independência."
Aleksandr Konovalov, presidente do Instituto de Avaliações Estratégicas de Moscou, disse estar de acordo com seu colega, mas adiantou que, durante a transição, Pence poderá tentar reassegurar a continuidade da política dos EUA em Kiev. No entanto, ele observou que "vice-presidentes não decidem a política, tudo depende da postura de Trump".
Quanto a Biden e sua terceira visita à Ucrânia, é provável que ele esteja enchendo a cabeça da Ucrânia com recomendações da forma como ela deve interagir com a administração de Trump, resumiu Loginov.