Outros organismos, como o Banco Mundial (Bird), apostam numa expansão do PIB brasileiro em 0,5%, mesmo percentual previsto pelos economistas ouvidos pela última Focus, a pesquisa semanal feita pelo Banco Central com as 100 maiores instituições financeiras do país.
Em relação às economias globais, o FMI é mais generoso. Não só prevê uma retomada mais sustentável este ano do que em 2016, principalmente dos Estados Unidos, Europa, Japão e China, como ainda vislumbra no horizonte melhores cotações para commodities como minério de ferro, soja e petróleo.
Por que o FMI está tão conservador quanto à retomada da economia brasileira?
Quem responde a essa pergunta é Juliana Inhasz, professora de Economia da Fundação Escola de Comércio Álvarez Penteado (FECAP). Para ela, não é que o FMI não esteja confiando nas nossas reformas ou nas tentativas de estabilização econômica.
"O organismo está percebendo que as reformas estão demorando para acontecer. Tanto existe uma perspectiva positiva à frente da estabilização econômica brasileira que o FMI mostrou uma manutenção dos indicadores e das perspectivas de crescimento para 2018. Dada à demora em colocar as reformas para a economia começar a reagir, o FMI fez essa revisão. Existe, sim, uma perspectiva otimista frente à adoção de reformas fiscais e de acertos econômicos para 2018", diz Juliana.
Para a professora da FECAP, o mundo viu, nos últimos anos, o fim do ciclo das commodities por um período persistente e que agora esboçam uma recuperação econômica não só do Brasil, como também em outros países, principalmente a partir de 2018.
Com relação à posse de Donald Trump na presidência dos EUA, na próxima sexta-feira, 20, a professora justifica a prudência das previsões do FMI sobre o que pode acontecer com a economia mundial.
"O FMI é cauteloso nesse aspecto. Na verdade, a gente não sabe o que nosso espera a partir do dia 20. Quando a gente está falando de um país como os Estados Unidos, que têm uma participação na economia mundial muito forte, qualquer tipo de movimento lá que não seja previsto causa incerteza e muda o contexto de todos os outros países. O que a gente percebeu na campanha eleitoral e depois no momento posterior à eleição é que houve um descasamento entre o que era o discurso eleitoral e o que foi adotado logo após o resultado", diz a especialista.
Na visão de Juliana, há a perspectiva de que, apesar de ser um presidente com aspirações mais protecionistas, Trump não vai conseguir fechar o país, porque hoje o mundo não permite mais espaço para economias fechadas em países desenvolvidos, como é o caso dos EUA.
"A economia deles depende demais das negociações e dos acordos comerciais que eles já fizeram e continuam fazendo com o resto do mundo. Essa nuvem de incerteza também nos afeta indiretamente, porque nossa economia depende muito de bens importados e temos uma ponta exportadora muito forte do lado agro. Qualquer tipo de medida protecionista pode nos afetar muito", finaliza Juliana.