"Este resultado surpreendente desmente a minha própria teoria de que pessoas completamente paralisadas com a 'síndrome do encarceramento' realmente não são, por princípio, capazes de comunicar com o mundo exterior. Nossos experimentos mostraram que todos os quatro voluntários puderam responder a perguntas pessoais que nós fizemos usando apenas o poder do pensamento. Se pudermos repetir os mesmos resultados, poderemos devolver o dom da fala a pessoas que sofrem de disfunção dos neurônios motores", diz Niels Bierbaumer da Universidade de Tubingen (Alemanha).
Dentro de si mesmo
A chamada "síndrome do encarceramento" é a fase final da evolução de certas doenças neurodegenerativas, tais como a esclerose lateral amiotrófica (ELA), ou "doença de Stephen Hawking", bem como o resultado de uma variedade de lesões cerebrais, intoxicações ou overdose de drogas. Durante seu desenvolvimento, a pessoa parece perder o contato com o mundo exterior e deixa de controlar seus músculos, incluindo respiratórios, devido a danos nos neurônios motores no cérebro e na medula espinhal.
Em geral, os sintomas da "síndrome do encarceramento" lembram o que acontece com o corpo e o cérebro de pessoas em coma e estado vegetativo, razão pela qual muitos neurocientistas, incluindo Bierbaumer, acreditavam que pessoas paralisadas não eram capazes de ter atividade mental, definir tarefas e resolvê-las.
Os cientistas usaram dois aparelhos — um tomógrafo de ressonância magnética, para observar o trabalho de diferentes partes do córtex e das camadas profundas do cérebro, e um espetroscópio infravermelho. Este instrumento científico relativamente novo permite monitorar o nível de atividade de certos grupos de células nervosas pela quantidade de oxigênio que eles consomem.
Luz no fim do túnel
Como explicam os cientistas, o corpo humano é em geral transparente para a irradiação térmica com comprimentos de onda de 700-900 nanômetros, contudo a hemoglobina, o transportador principal de oxigênio no nosso sangue, a absorve. Assim, quanto mais oxigênio consome uma célula e o recebe das células vermelhas, tanto mais escura ela será para esse dispositivo.
Alguns anos atrás, um outro grupo de cientistas descobriu, observando o funcionamento do cérebro de pessoas saudáveis, que respondendo a perguntas simples a concentração de hemoglobina varia de forma previsível: quando você responde "sim", a sua quota no cérebro aumenta, quando "não" — ela continua igual ou diminui. Seguindo esta ideia, os cientistas criaram um programa que traduziu estes sinais em respostas de "sim" e "não".
O que mais surpreendeu os cientistas foi que os participantes dos experimentos estavam geralmente satisfeitos com o fato de eles continuarem sua existência, embora a vida de alguns deles tivesse de ser mantida com a ajuda de sistemas de ventilação mecânica dos pulmões.
A prova de que mesmo as pessoas nesse estado "encarcerado" continuam querendo viver e comunicar com seus semelhantes, de acordo com Bierbaumer, vai acelerar a investigação nesta área e levar ao desenvolvimento de sintetizadores de fala e dispositivos que irão ajudar esses pacientes a se moverem de forma independente.