No livro, a autora fala sobre a grande expectativa que reina no meio político frente à possibilidade de o empresário fechar acordo de delação premiada, o que pode comprometer diversos nomes de peso há mais de uma década no país. Das frustações de Eike na tentativa de compra da Vale, de negócios não realizados na Bolívia e de suas redes de contato no Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Fundo de Marinha Mercante e Caixa, entre outras instituições, o livro de Malu Gaspar traça uma síntese das relações entre empresas e governo nos últimos anos.
"Além de ser um personagem curioso, interessante e exótico, com todas as histórias de vida pessoal, o Eike se tornou, durante os anos de boom da economia brasileira, um personagem icônico e simbólico do que era não só o capitalismo brasileiro como as relações entre os empresários e o Estado. Ele foi esse fenômeno de ascensão nas bolsas com empresas supervalorizadas porque tinha seu carisma, mas também porque soube fazer as conexões certas", diz Malu.
No livro, a jornalista conta como o empresário se preocupou em conquistar determinados governantes, como fez uma aliança simbiótica com o então governador Sérgio Cabral, e como se empenhou em se aproximar do poder que, à época, era do PT.
"Ele se empenhou em se aproximar do Lula, em financiar campanhas petistas, pagar dívidas de campanhas, pagando uma dívida de 2002, já depois de o Lula ter sido eleito, e seguiu cultivando esse relacionamento até 2012, quando Guido Mantega (ex-ministro da Fazenda) pede para ele pagar uma dívida de campanha com o João Santana e a Mônica Moura — marqueteiros do PT, condenados nesta quinta-feira, 2, a oito anos de prisão por corrupção pelo juiz Sérgio Moro, da 13ª Vara Federal de Curitiba — e fornece o dinheiro necessário", lembra Malu.
Segundo a autora, no intervalo de nove a dez anos, muita coisa aconteceu e não se pode esquecer que os negócios do Eike eram muito dependentes do governo para obtenção de licenças ambientais, de operação e concessões.
"Não foram poucas as vezes em que Cabral fez solenidades no Palácio Guanabara para receber investidores estrangeiros e mostrar o quanto o Eike era representativo e importante para os interesses políticos do Rio de Janeiro. Eu conto no livro que Lula e Dilma mais ou menos também fizeram esse papel", diz a jornalista.
Malu afima que durante muitos anos Eike cultivou essas relações, procurou manter essas pessoas próximas à custa de incentivos, contribuições de campanha, patrocínio para Olimpíada, e agora a Lava Jato está revelando que também havia um canal de propinas.
"Acredito que dada a quantidade de políticos — não só do PT, mas de todos os partidos com quem Eike se envolveu — e à generosidade que ele demonstrava que muita gente deva temer uma futura delação. Tem histórias em todos os ramos do setor público. Contei muito do bastidor, mas tem muita coisa ainda para vir à tona", conclui a autora.