Retorno ao Mediterrâneo
Atualmente, há uma "grande substituição" em andamento na região, com Moscou olhando para o acesso a bases navais na Líbia e no Egito, segundo um relatório da publicação francesa militar e de defesa Très Très Urgent. Isto indicia uma intenção da Rússia em recuperar as posições perdidas no Mediterrâneo.
Segundo a TTU, nos últimos anos a Rússia adquiriu aliados que podem ajudar a aumentar sua influência no Oriente Médio, incluindo Síria, Egito, Argélia, Líbia e Marrocos. Todos esses países são parceiros de Moscou em cooperação militar e técnica.
O relatório não fornece informações detalhadas sobre as condições propostas pela Rússia. De acordo com a TTU, Moscou não quer arrendar bases. Sua infraestrutura poderia ser usada para estacionamento e reabastecimento de navios russos. No entanto, se as negociações tiverem sucesso, a Rússia terá a chance de estabelecer uma presença militar permanente no Mar Mediterrâneo.
Os analistas franceses disseram que tal cenário não pode ser descartado. O possível sucesso militar e diplomático já está materializado nas boas relações entre o presidente russo Vladimir Putin e o líder egípcio Abdel Fattah al-Sisi. Ao mesmo tempo, Moscou está reconstruindo os laços com Trípoli. A TTU estima que a Rússia e a Líbia poderão alcançar um acordo para fornecimento de armas no valor de 1,6 bilhões de dólares (cerca de 5 bilhões de reais), incluindo aviões, tanques e defesas de mísseis.
Apoio e assistência
Reconstrução da presença militar no Mediterrâneo é um dos objetivos inscritos na nova edição da doutrina marítima russa. É digno de nota que a versão atualizada do documento foi revelada dois meses antes de a Rússia lançar sua operação militar na Síria.
Durante a campanha, navios de guerra russos forneceram cobertura a missões aéreas e realizaram ataques com mísseis contra terroristas. Outra tarefa importante é acompanhar os movimentos das forças navais da OTAN.
Os acordos preliminares com outros países para a utilização dos seus portos facilitam a preparação para operações navais de longa duração, em particular, dando apoio e assistência em caso de força maior. É por isso que a Rússia está agora em conversações com Marrocos, Argélia, Líbia e Egito. Os quatro países do Norte de África cobrem 90% da costa sul do Mediterrâneo.
Instalação naval de Tartus
Após o colapso da União Soviética, a única instalação da Rússia no Mediterrâneo era uma base de abastecimento da Marinha no porto sírio de Tartus.
Desde o início da campanha militar na Síria, a Rússia foi transformando a instalação em uma base naval moderna. Em 18 de janeiro, Moscou e Damasco assinaram um acordo que permite o estacionamento de até 11 navios russos nesse porto.
Os analistas dizem que a Rússia usará a base de Tartus como peça central de suas atividades militares no mar Mediterrâneo. No ano passado, perto da base foram implantados sistemas de guerra eletrônica Krasukha e defesas de mísseis S-300V4.
O aumento da componente ofensiva e o estacionamento de navios de guerra russos nos portos do Mediterrâneo desempenharão um papel fundamental para garantir a segurança da força naval russa na região.
Competindo com os Estados Unidos
A Marinha russa tem em serviço mais de 30 navios de guerra grandes, 21 navios anfíbios, bem como mais de 50 submarinos, incluindo 16 submarinos com mísseis balísticos e 15 submarinos armados com mísseis de cruzeiro.
No entanto, a Marinha pode deslocar rapidamente para o Mediterrâneo apenas 20 navios e submarinos, principalmente da Frota do Mar Negro. Uma esquadra da Frota do Norte, por exemplo, leva pelo menos duas a três semanas navegando até à região. Em teoria, ela pode ser bloqueada no Mar do Norte ou no Canal da Mancha.
Ao mesmo tempo, o Mar Mediterrâneo é dominado pela Sexta Frota norte-americano, com base em Nápoles, Itália. Em um sistema rotativo, a região é patrulhada por um a dois porta-aviões, dezenas de navios de guerra e submarinos. Além disso, ao contrário da Rússia, os militares dos EUA têm capacidade para realizar operações de desembarque na região.
De acordo com o especialista militar Vadim Soloviev, Moscou obtém vantagens políticas e militares significativas da cooperação com o Cairo e Trípoli.
"O Egito, e especialmente a Líbia, foram duramente atingidos pela Primavera Árabe aprovada pelos Estados Unidos. Eles agradecem a cooperação com a Rússia para combater a hegemonia dos EUA", disse Soloviev à RT.
O especialista observou que se as conversações com os países mediterrâneos forem bem-sucedidas, a Rússia reforçará significativamente suas posições na região. Ele também sugeriu que isso pode dar vantagem à Rússia sobre a OTAN.
"A Rússia não vai construir bases permanentes no Oriente Médio para evitar alimentar tensões com a OTAN. As bases permanentes também são muito caras para Moscou. Mas a Marinha russa quer ter certeza de que seu navio pode sempre receber assistência em portos amigáveis", disse Soloviev.