O que está por trás do aumento da presença militar da Rússia no Mediterrâneo?

© AFP 2023Cruzador de mísseis russo Moskva em patrulha no Mar Mediterrâneo, ao largo da costa da Síria, em 17 de dezembro de 2015
Cruzador de mísseis russo Moskva em patrulha no Mar Mediterrâneo, ao largo da costa da Síria, em 17 de dezembro de 2015 - Sputnik Brasil
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Aproveitando a falta de unanimidade na União Europeia e a incerteza dos EUA em política externa, a Rússia está construindo laços estreitos com os países mediterrâneos.

Retorno ao Mediterrâneo

Atualmente, há uma "grande substituição" em andamento na região, com Moscou olhando para o acesso a bases navais na Líbia e no Egito, segundo um relatório da publicação francesa militar e de defesa Très Très Urgent. Isto indicia uma intenção da Rússia em recuperar as posições perdidas no Mediterrâneo.

Segundo a TTU, nos últimos anos a Rússia adquiriu aliados que podem ajudar a aumentar sua influência no Oriente Médio, incluindo Síria, Egito, Argélia, Líbia e Marrocos. Todos esses países são parceiros de Moscou em cooperação militar e técnica.

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Em troca de fornecimentos de armas, os países mediterrâneos estão prontos para conceder acesso aos seus portos à Marinha russa, de acordo com o relatório. Além disso, o Ministério da Defesa russo está em negociações para obter acesso a bases aeronavais, particularmente, um aeródromo na cidade egípcia de Sidi Barrani.

O relatório não fornece informações detalhadas sobre as condições propostas pela Rússia. De acordo com a TTU, Moscou não quer arrendar bases. Sua infraestrutura poderia ser usada para estacionamento e reabastecimento de navios russos. No entanto, se as negociações tiverem sucesso, a Rússia terá a chance de estabelecer uma presença militar permanente no Mar Mediterrâneo.

Os analistas franceses disseram que tal cenário não pode ser descartado. O possível sucesso militar e diplomático já está materializado nas boas relações entre o presidente russo Vladimir Putin e o líder egípcio Abdel Fattah al-Sisi. Ao mesmo tempo, Moscou está reconstruindo os laços com Trípoli. A TTU estima que a Rússia e a Líbia poderão alcançar um acordo para fornecimento de armas no valor de 1,6 bilhões de dólares (cerca de 5 bilhões de reais), incluindo aviões, tanques e defesas de mísseis.

Apoio e assistência

Reconstrução da presença militar no Mediterrâneo é um dos objetivos inscritos na nova edição da doutrina marítima russa. É digno de nota que a versão atualizada do documento foi revelada dois meses antes de a Rússia lançar sua operação militar na Síria.

Durante a campanha, navios de guerra russos forneceram cobertura a missões aéreas e realizaram ataques com mísseis contra terroristas. Outra tarefa importante é acompanhar os movimentos das forças navais da OTAN.

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As forças navais da Rússia estão posicionadas ao largo da costa síria em uma base rotativa, assim de fato existe uma presença naval permanente da Rússia no Mediterrâneo.

Os acordos preliminares com outros países para a utilização dos seus portos facilitam a preparação para operações navais de longa duração, em particular, dando apoio e assistência em caso de força maior. É por isso que a Rússia está agora em conversações com Marrocos, Argélia, Líbia e Egito. Os quatro países do Norte de África cobrem 90% da costa sul do Mediterrâneo.

Instalação naval de Tartus

Após o colapso da União Soviética, a única instalação da Rússia no Mediterrâneo era uma base de abastecimento da Marinha no porto sírio de Tartus.

Desde o início da campanha militar na Síria, a Rússia foi transformando a instalação em uma base naval moderna. Em 18 de janeiro, Moscou e Damasco assinaram um acordo que permite o estacionamento de até 11 navios russos nesse porto.

Os analistas dizem que a Rússia usará a base de Tartus como peça central de suas atividades militares no mar Mediterrâneo. No ano passado, perto da base foram implantados sistemas de guerra eletrônica Krasukha e defesas de mísseis S-300V4.

O porta-aviões russo Admiral Kuznetsov - Sputnik Brasil
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Especialistas sugerem que Moscou também pode implantar na área sistemas antiaéreos adicionais, bem como sistemas antinavio Bal e Bastion, de baseamento costeiro.

O aumento da componente ofensiva e o estacionamento de navios de guerra russos nos portos do Mediterrâneo desempenharão um papel fundamental para garantir a segurança da força naval russa na região.

Competindo com os Estados Unidos

A Marinha russa tem em serviço mais de 30 navios de guerra grandes, 21 navios anfíbios, bem como mais de 50 submarinos, incluindo 16 submarinos com mísseis balísticos e 15 submarinos armados com mísseis de cruzeiro.

No entanto, a Marinha pode deslocar rapidamente para o Mediterrâneo apenas 20 navios e submarinos, principalmente da Frota do Mar Negro. Uma esquadra da Frota do Norte, por exemplo, leva pelo menos duas a três semanas navegando até à região. Em teoria, ela pode ser bloqueada no Mar do Norte ou no Canal da Mancha.

Ao mesmo tempo, o Mar Mediterrâneo é dominado pela Sexta Frota norte-americano, com base em Nápoles, Itália. Em um sistema rotativo, a região é patrulhada por um a dois porta-aviões, dezenas de navios de guerra e submarinos. Além disso, ao contrário da Rússia, os militares dos EUA têm capacidade para realizar operações de desembarque na região.

De acordo com o especialista militar Vadim Soloviev, Moscou obtém vantagens políticas e militares significativas da cooperação com o Cairo e Trípoli.

"O Egito, e especialmente a Líbia, foram duramente atingidos pela Primavera Árabe aprovada pelos Estados Unidos. Eles agradecem a cooperação com a Rússia para combater a hegemonia dos EUA", disse Soloviev à RT.

O especialista observou que se as conversações com os países mediterrâneos forem bem-sucedidas, a Rússia reforçará significativamente suas posições na região. Ele também sugeriu que isso pode dar vantagem à Rússia sobre a OTAN.

"A Rússia não vai construir bases permanentes no Oriente Médio para evitar alimentar tensões com a OTAN. As bases permanentes também são muito caras para Moscou. Mas a Marinha russa quer ter certeza de que seu navio pode sempre receber assistência em portos amigáveis", disse Soloviev.

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