Junior Fialho, presidente da Associação dos Investigadores da Polícia Civil do Espírito Santo (Assinpol), confirma a gravidade da situação da segurança pública no estado.
"Já passamos de 103 homicídios, infelizmente até com a perda de policiais tentando defender a sociedade. Alguns policiais militares tentaram fazer patrulhamento e também foram alvejados. A situação está muito crítica. Virou um campo de batalha aqui na região metropolitana, com o comércio todo fechado. Nada funciona. Parece que estamos numa guerra, continuam os saques mesmo com a Força Nacional. Perdeu-se o controle. Até para fazer compras está difícil. Parece que você está em tempo de guerra aqui. Escolas suspenderam as aulas e bancos fecharam", relata o policial.
Fialho conta que tanques da Marinha foram desembarcados em Vitória, mas ele mostra ceticismo quanto a uma solução imediata.
"A gente entende que não vai dar muito efeito não. Se continuar desse jeito, o governo federal teria que fazer uma intervenção no governo, que está sendo incapaz de gerenciar uma negociação com os trabalhadores da área de segurança. A PM está de braços cruzados, a Polícia Civil tende a seguir pelo mesmo caminho, o sistema prisional está a ponto de fechar as portas. Lamentavelmente estamos sem governo, essa é a grande verdade."
Segundo o presidente da Assinpol, os episódios de violência estão sendo registrados em todo o estado e não apenas na capital. A prova disso é que muitos municípios que nunca tiveram histórico de homicídios já estão registrando os primeiros casos. Em Vitória, até o Departamento Médico Legal (DML) está lotado e a administração corre o risco de ter que alugar caminhão frigorífico para colocar corpos.
A questão do abastecimento também preocupa, uma vez que, com medo de saques, muitos supermercados não abrem ou funcionam em horário reduzido. Com isso, há problemas de abastecimento e reposição de mercadorias, fato que se agrava porque muitos consumidores tentam fazer estoques, principalmente de comida.
"Eu sou testemunha viva disso. Estou passando por dificuldade. Eu preciso fazer compras e não tenho lugar para ir, está tudo fechado. As farmácias que se arriscam (a abrir) são assaltadas. Todos os condomínios têm contratado segurança particular, as empresas de vigilância já não têm mais servidores para poder colocar nas ruas. Os ônibus estão parados. Tentaram sair na parte da manhã, metralharam um ônibus com passageiros e se recolheram todos os ônibus", relata o presidente do Assinpol.
"É importante que a sociedade saiba que nós, como qualquer trabalhador, temos o direito de ter, no mínimo, a correção da inflação. Qualquer trabalhador do Brasil têm a data-base para receber reajuste salarial, mas nós estamos há três anos sem um real de reposição. Não estou querendo salário de deputado e senador. Eu quero o que eu recebia. Estamos tentando segurar a categoria porque, com a PM parada já está ruim, se nós da Polícia Civil pararmos, deixarmos de recolher corpos, fazer perícia, entregar identidades no posto de verificação, aí que a população vai sofrer mais ainda. A gente não quer fazer isso", desabafa o policial
"Infelizmente na sociedade brasileira hoje, e principalmente no Espírito Santo, estamos vivendo num Estado de ditadura jurídica. Se a gente não conseguir debater essa ditadura jurídica, não resta outra caminho, de relembrar o passado e encarar esse governo autoritário que tenta coibir todos os movimentos através de liminares. A gente não consegue, no Espírito Santo, ganhar um auxílio alimentação de R$ 176, enquanto um juiz ou desembargador tem um auxílio de R$ 800, R$ 900, auxílio moradia de R$ 3 mil, R$ 4 mil. É quase o meu salário. São coisas dadas pelo Estado e acordadas pelos poderes para calar a massa de trabalhadores."
Segundo Fialho, só resta a categoria encarar o Estado, a Justiça, ou se entregar, mas ele garante que os policiais civis não farão isso.
"Se a gente tem disposição para prender bandido na rua, imagine encarar bandido de terno e gravata. A gente não tem medo disso e a polícia não vai se acovardar com esse tipo e modelo de bandidos", diz Fialho.