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Prisão na Venezuela: 'A gente imaginava que não voltaria mais para casa'

© REUTERS / Palácio MirafloresNicolás Maduro, presidente da Venezuela
Nicolás Maduro, presidente da Venezuela - Sputnik Brasil
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Uma história com final de feliz, apesar dos momentos de tensão sofridos pelos jornalistas Leandro Stoliar e Gilson Oliveira, da equipe da Rede Record, presa sábado passado em Maracaibo, no norte da Venezuela, quando faziam reportagem sobre o envolvimento de empreiteiras brasileiras em subornos em obras de infraestrutura no país.

No sábado, por volta do meio-dia, Stoliar e Oliveira, além de dois jornalistas venezuelanos, José Urbino e Maria José Túa, tiveram o veículo abordado na estrada por viaturas não identificadas do Serviço Bolivariano de Inteligência Nacional (Sebin). Após 30 horas de interrogatório na cidade de Maracaibo e depois conduzidos a Caracas, só foram libertados no domingo após denúncias da ONG Transparência Venezuela, da interferência do Itamaraty junto ao governo venezuelano e da repercussão na imprensa mundial. Os dois brasileiros foram liberados apenas às 18h de domingo em Caracas, de onde partiram para São Paulo, em um voo da Avianca que fez escala em Lima, no Peru. Os dois chegaram ao Aeroporto de Guarulhos às 5h50 desta segunda-feira, 13.

Em entrevista exclusiva à Sputnik Brasil, Stoliar conta o susto da experiência.

"A todo momento, lá na Venezuela, a gente imaginava que não voltaria mais para casa. Ficamos presos no Serviço de Inteligência Bolivariana, que lá eles chamam de serviço secreto da polícia política. Quando a gente foi preso na cidade de Maracaibo, mais de seis carros descaracterizados fecharam nosso carro e saíram pessoas à paisana. A gente achou que era assalto. Depois eles se apresentaram como policiais do serviço secreto da polícia política, levaram nossa equipe e mais dois jornalistas venezuelanos que estavam com a gente. Fomos interrogados por mais de 12 horas no primeiro dia", conta o jornalista. 

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Stoliar diz que só foram liberados para ir ao hotel à meia-noite de sábado e mesmo assim acompanhados de dois policiais. No hotel, iniciou-se uma discussão, uma vez que os policiais queriam dormir no mesmo quarto dos jornalistas. A solução encontrada foi agentes e e jornalistas passarem a madrugada acordados no lobby do hotel. Às 5h30 voltaram para o serviço secreto e foram interogados por mais algumas horas. Depois foram levados para Caracas em um avião fretado pela polícia com homens fortemente armados, com fuzis, pistolas, metralhadoras, coletes e tocas ninja.

"A gente só tinha ido à Venezuela fazer um trabalho jornalístico de uma denúncia contra empreiteiras brasileiras que tiraram dinheiro do BNDES para financiar obras que não aconteceram. Elas conseguiram financiamento altíssimos, com valores três, quatro, cinco vezes maiores do que a média mundial e com juros mais baixos do que os praticados no Brasil, o que gerou um baita negócio. Só na ponte do lago de Maracaibo, segundo dados do Ministério dos Transportes da Venezuela, eles gastaram mais de US$ 3,5 bilhões para fazer 100 metros de ponte em mais de 10 anos. A Ponte Vasco da Gama, sobre o Rio Tejo, em Lisboa, tem 17 quilômetros e o custo da construção foi de 900 milhões de euros.

Stoliar diz que ele e o colega não chegaram a sofrer agressões físicas, mas houve, sim, tortura psicológica, pois a todo o momento os agentes informavam que eles seriam soltos e, logo depois, que continuariam presos. 

"Eles confiscaram nossos celulares, a câmera, o computador, as malas ficaram no hotel em Caracas. A gente só saiu com a roupa do corpo e uma mochila. Em Caracas, quando chegamos, a Polícia Bolivariana Nacional tratou a gente muito mal, foi agressiva, fomos interrogados de novo por muitas horas. Ao todo foram mais de 30 horas de interrrogatórios e cárcere privado. A gente foi tratado como criminoso e quando fomos embora de Caracas eles chamaram a gente de terrorista da pátria, traidores da nação", recorda o jornalista

Stoliar diz que o consulado brasileiro tentou ajudar o tempo todo, ligando para o seu telefone, tentando esclarecer a situação com os policiais. 

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"A todo o momento oconsulado brasileiro tentava ajudar nossa equipe, negociar com o governo para que a gente fosse solto, tanto que eles (diplomatas) tentaram entrar no Aeroporto de Caracas e não conseguiram. Os policiais não permitiram a entrada dos diplomatas. A polícia ali tem mais poder do que a lei", denuncia. 

A sorte da equipe brasileira, segundo Stoliar, foi que as gravações foram feitas em cartões de memória e os agentes só levaram a câmera, cujo modelo não registra gravação em cartão. Os dois jornalistas esconderam os cartões, e ficaram muito tensos porque a todo o momento eram revistados. "Como eles viram as imagens na câmera, eles acharam que só tinha imagens na memória da câmera e não nos cartões." 

Formalmente a alegação da expulsão foi a de que a Rede Record não tinha autorização para trabalhar com uma equipe de jornalistas no país.

"A imprensa não é livre no país. Qualquer pessoa que eles acreditem que esteja fazendo uma reportagem que vá manchar a imagem do governo de alguma maneira essa equipe é presa, interrogada e, se for estrangeira, é expulsa do país. Queria agradecer a imprensa mundial, porque isso ganhou repercussão no mundo todo e graças ao trabalho da imprensa a gente foi liberado da prisão. Isso não vai intimidar a gente, só nos dá mais ânimo para o que nos motiva a fazer jornalismo", finaliza Stoliar.

A Sputnik Brasil entrou em contato com a Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj) que informou não ter emitido nota oficial, embora tenha acompanhado o processo todo o tempo junto ao Itamaraty. 

A Associação Brasileira de Rádio e Televisão (Abratel) divulgou nota oficial: " Tal decisão é abominável e digna apenas de regimes ditatoriais que não aceitam o livre exercício da imprensa e temem a verdade", diz a entidade.

Já a Rede Record divulgou nota em que "repudia esta atitude violenta e radical que fere a liberdade de imprensa e exige a imediata liberação dos profissionais e de todo o material apreendido".


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