Sputnik: Há dois dias, houve uma reunião entre os ministros da Defesa português e brasileiro, durante a qual o titular da pasta brasileiro disse que Portugal era, vamos dizer, uma plataforma para se aproximar à OTAN. Então, como o senhor avalia as perspectivas da cooperação na área de defesa e segurança?
Mário Godinho de Matos: Exatamente, nós notamos essas afirmações que foram feitas há poucos dias. Como sabe, entre Portugal e o Brasil há um largo espectro de relações a todos os níveis: econômicos, culturais, políticas também… A área de defesa é uma área em que também se pode fazer progressos e avanços.
S: Há pouco, o primeiro-ministro português António Costa foi à República Centro-Africana onde ficam 160 militares portugueses que tomam parte de uma missão das Nações Unidas. Como o senhor embaixador poderia comentar e explicar e importância desta missão para o seu país?
MGM: As missões das Forças Armadas portuguesas no estrangeiro e nesse tipo de missões de paz como essa que referiu, na África, e outras também — temos colaborado nos Bálcãs, no Médio Oriente — são um vetor muito importante da nossa política externa, porque, justamente como membros da NATO [OTAN] e da União Europeia, fizemos um esforço muito grande, também do ponto de vista orçamental, para estar presente no maior número de frentes possíveis de luta contra o terrorismo, contra, enfim, as situações como essa que referiu [guerra civil na República Centro-Africana] em que se deve garantir o respeito pelos direitos humanos e, portanto, essa é uma frente que temos.
Temos dado muita atenção [a estes assuntos] e participamos em várias áreas no mundo com esse tipo de participação das nossas Forças Armadas.
S: António Guterres assumiu funções há pouco, e já houve uma situação em que o secretário-geral [da ONU António Guterres] propôs a candidatura de Salam Fayyad, palestino, para o posto do enviado especial na Líbia. Esta candidatura foi rejeitada, rechaçada primeiramente pelos EUA. Como o senhor embaixador pode comentar a situação, quais são os obstáculos neste caminho, digamos, e como pode avaliar o empenho que António Guterres já fez na ONU?
MGM: Bem, como pode imaginar, para mim é muito difícil estando aqui, em Moscovo [Moscou], comentar uma iniciativa do secretário-geral das Nações Unidas. Enfim, sendo [ele] cidadão português e hoje [em dia ele é também] secretário-geral das Nações Unidas quem tenta interpretar, no âmbito das Nações Unidas, quais são as forças que estão presentes.
S: Também há poucos dias, os ministros da Defesa italiana, português, espanhola e francês escreveram uma carta conjunta ao secretário-geral da OTAN, dizendo que queriam um reforço, vamos dizer, do flanco Sul da OTAN. Então, será que isto pode ser ligado, por exemplo, às preocupações dos países europeus com a nova administração norte-americana, com Trump que várias vezes questionou a eficácia da OTAN? Qual pode ser o motivo de tais ações?
MGM: Não, eu penso que essa é uma questão antiga. Eu próprio trabalhei na delegação portuguesa na NATO [OTAN] durante vários anos. E já nessa altura tínhamos uma relação com o flanco Sul da NATO [OTAN], ou seja, com os países do Magreb [região africana que está limitada pelo Mar Mediterrâneo a norte e fica em proximidade dos respectivos países europeus]. Chamava-se então essa iniciativa [de] Diálogo Mediterrâneo.