Frank Elbe, ex-alto funcionário da diplomacia alemã, considera que aquela intervenção de Putin foi um sinal para o Ocidente e que este o ignorou.
"Posso compará-lo [ao discurso] com as teses de Martin Luther que foram uma espécie de convite para uma discussão acadêmica. Na introdução ao seu discurso Putin também chamou todos à discussão", declarou Frank Elbe em uma entrevista à Sputnik Alemanha.
Estes temas permanecem até hoje como atuais na agenda internacional. Mas por que o mundo Ocidental ficou chocado e ignorou a mensagem de Putin?
"Do ponto de vista da Rússia, este discurso foi um sinal para despertar que poderia se ter tornado na base para uma discussão séria e racional. Este discurso fazia pensar", assegurou Frank Elbe.
A relação negativa foi provocada não pelo próprio discurso de Putin, mas pela nota publicada por um ensaísta do Die Zeit, que escreveu "Isto é a nova Guerra Fria" indicando assim o rumo para a discussão do tema junto da opinião pública, especialmente do pensamento coletivo, especialmente do alemão.
Angela Merkel, que em 2007 falou antes de Putin, sem conhecer o conteúdo do discurso do presidente russo, também destacou a importância da cooperação, porque "nenhum país tem poder, dinheiro e influência suficientes para combater sozinho os desafios contemporâneos".
Frank Elbe assinala que hoje em dia cerca de 80% dos alemães querem o melhoramento nas relações com a Rússia, mas a mídia maistream continua fazendo uma cobertura russófoba e critica Moscou dizendo que as sanções que não podem ser levantadas até que Kremlin cumpra os Acordos de Minsk.
"A desonestidade dessa atitude é que ninguém critica a Ucrânia por não deixar que as repúblicas [de Donetsk e Lugansk] sejam autônomas e realizem eleições. Se nós não começarmos a nos comportar de jeito honesto neste assunto, correremos o risco de estragar a nossa cooperação com a Rússia e de criar uma ameaça à paz e segurança. Mas o que me preocupa mais é que podemos perder a Rússia e o povo russo", confessa Frank Elb.
"É exatamente isso que nós estamos observando [luta nos bastidores políticos dos EUA]. Vou dizer com precaução: o desajeitamento nas ordens fez com que o campo de McCain se reforçasse. Agora é necessário ver como este trio — presidente, secretário de Estado e secretário de Defesa — vão seguir a política do presidente", diz Elb.
Em conclusão, ele destacou que é de uma mentalidade muito primitiva pensar que Putin é culpado da falta de entendimento entre a Rússia e Ocidente, que sem ele a situação seria muito melhor.
"Eu acho que para nós Putin é um parceiro muito seguro, mas será difícil conseguir que todos o compreendam. Estou seguro que Putin aposta na colaboração com o Ocidente e em perspectiva de longo prazo ganharemos se não tentarmos isolar Putin e o reconhecermos como parceiro".