"Os objetivos da missão 'Marte 2020' — procurar vestígios de vida e sua catalogação — exigem uma abordagem especial na escolha do local de pouso, e para a sua realização é preciso minimizar os riscos, tanto para o rover, quanto para as amostras coletadas por ele. Por exemplo, temperaturas altas ou com mudanças bruscas podem levar à degradação das amostras antes que possamos transporta-las para Terra. Nós fomos guiados principalmente por estes critérios na escolha de locais de pouso", disse Kenneth Farley, o chefe do projeto "Marte 2020".
Em dezembro de 2012, após o pouso bem-sucedido do rover Curiosity na cratera Gale, no equador de Marte, e o começo da exploração dos mistérios do lago seco, a NASA anunciou a sua intenção de criar outro rover, que deverá seguir para o planeta vermelho em 2020. Seu custo atual é estimado em 2,1 bilhões de dólares (cerca de 6,5 bilhões de reais).
No início de agosto de 2015, a NASA anunciou oito pontos em que podia pousar o Marte 2020, os tendo selecionado de uma lista de 27 regiões marcianas interessantes do ponto de vista científico.
Metade dos oito pontos selecionados — as crateras Jezero, Eberswalde, Holden e a cavidade Melas — são leitos de rios secos de Marte, e os outros quatro — colinas de Colômbia, vale de Mavrt, covas de Neely e platô Syrtis Major — são compostos pelas rochas mais antigas de Marte, que podem esconder vestígios de vida primitiva.
Esta semana, os especialistas da NASA completaram a análise de cada um dos oito pontos e escolheram os dois principais candidatos ao lugar de pouso, e um outro ponto, que é inferior a eles, mas que também pretende ser a próxima "casa" do novo rover da NASA.
Os dois primeiros pontos — cratera Jezero e platô Syrtis Major — foram os escolhidos pelos cientistas, porque eles são convenientes pela facilidade de seu estudo, pelo grande número de formas geográficas interessantes que podem conter vida, bem como por várias outras razões. Por exemplo, na cratera Jezero existe um delta completo de rio e vestígios de lagos, que repetidas vezes secaram e se voltaram a encher de água cerca de 3,5 bilhões de anos atrás, quando Marte tinha água e uma atmosfera densa. Nos sedimentos desses lagos, segundo acreditam os cientistas, pode bem estar escondidos restos de bactérias e outros representantes da vida primitiva.
O platô Syrtis Major no equador de Marte interessa aos planetólogos e xenobiólogos na medida em que ele combina as duas características que podem contribuir para o surgimento e manutenção da vida — aqui, no passado, havia reservas de água líquida e vulcões.
Eles poderiam aquecer a água e mantê-la em estado líquido quando Marte era um "pedaço de gelo", ou começou se transformando nele. Além disso, a interação da água com emissões vulcânicas pôde enriquecê-la com minerais e contribuir para o nascimento dos primeiros "tijolos de vida", na forma de ácidos aminados primitivos, proteínas, açúcares e outros componentes de células vivas. Vestígios de tais substâncias podem dizer aos cientistas se Marte era realmente apto para a vida ou não.
Apesar do fato de que o Spirit estudou muito detalhadamente a cratera Gusev, os cientistas veem nela muitas regiões quase intocadas e inexploradas, onde se podem esconder depósitos de materiais formados nas cercanias das fontes geotérmicas de água e calor. Perto destes objetos submersos, "fumadores pretos", como hoje considera um grande número de biólogos, poderia ter nascido a vida na Terra, e algo semelhante poderia ter acontecido em Marte.
Farley e seus colegas não acreditam que a cratera Gusev possa competir com a cratera Jezero e o platô Syrtis Major, mas eles ainda não estão prontos para exclui-la antes de os especialistas fornecerem os dados completos sobre a geologia destes três pontos usando imagens da sonda MRO. Os dois locais de pouso final, o principal e o de reserva, serão anunciados em março, e a escolha final do local de pouso do Marte 2020 na superfície do planeta vermelho será anunciada pela NASA mais perto da data de lançamento do veículo para o espaço.