Ao contrário dos anos anteriores, a Rússia e a chamada "ameaça russa" não estiveram no topo da agenda da Conferência de Segurança de Munique, que concluiu no domingo (19). No encontro deste ano, as invocações de Moscou como um potencial adversário foram surpreendentemente discretas, relata a Sputnik.
A chanceler alemã Angela Merkel, por exemplo, pediu para "estabelecer boas relações com a Rússia", apesar das atuais diferenças entre Berlim e Moscou em uma série de questões urgentes, incluindo a expansão da OTAN para leste e a Ucrânia.
"A Rússia também [compartilha] uma das nossas fronteiras externas e é nossa vizinha, e eu não vou parar de chamar para o estabelecimento de boas relações com a Rússia, apesar de nossas posições diferentes. Para mim, isso significa continuar a aderir ao Ato Fundador OTAN-Rússia; eu agradeço ao secretário-geral da OTAN pelas reuniões do Conselho Rússia-OTAN", disse ela.
Segundo Merkel, a luta conjunta contra o terrorismo islâmico é uma área onde a Rússia e a Alemanha poderiam cooperar com sucesso.
"Precisamos buscar métodos comuns na luta contra o terrorismo islâmico. Aqui temos interesses comuns, onde podemos trabalhar juntos", disse Merkel, pedindo também a criação de "uma espécie de união" abrangendo o território desde a cidade russa de Vladivostok até à Europa.
Outro participante importante da Conferência de Munique deste ano, o vice-presidente dos EUA, Michael Pence, também se absteve de se referir à alegada "ameaça russa".
Ele disse que a nova administração dos EUA considera necessário encontrar novos pontos de cooperação com a Rússia e que "o presidente Trump acredita que eles podem ser encontrados".
O ministro das Relações Exteriores russo, Sergei Lavrov, por sua vez, rejeitou todas as acusações de que Moscou supostamente estará tentando minar a ordem mundial existente.
"Estamos fortemente em desacordo com aqueles que acusam a Rússia e os novos centros de influência global de tentar minar a chamada ordem mundial liberal", disse ele à Conferência de Segurança de Munique em 2017.
Lavrov disse que "a Rússia sempre esteve pronta para trabalhar em uma base de igualdade com os parceiros estrangeiros" e para a criação de "uma área de segurança comum, desenvolvimento e boa vizinhança". Segundo ele, a atual tensão entre a América do Norte, a Europa e Rússia é "antinatural".
"Nós confiamos no triunfo do bom senso", disse Lavrov, acrescentando que, no que diz respeito aos laços entre Moscou e Washington, "queremos uma relação baseada no pragmatismo, no respeito mútuo e na compreensão de nossa responsabilidade especial [de manter] a estabilidade global."
Este ano, a agenda da Conferência centrou-se também no futuro das relações transatlânticas, na cooperação entre os Estados-membros da UE em termos de segurança e defesa e na situação da segurança na região da Ásia-Pacífico, incluindo na península coreana.
Os participantes também discutiram o terrorismo, a guerra da informação, bem como as principais ameaças à saúde global e à segurança climática.