O estudo começou há cerca de 80 anos e foi feito por centenas de pesquisadores e vem ganhando atualizações, como a feita agora pela bióloga brasileira Carolina Levis, uma das autoras da pesquisa, e que está em fase de conclusão de seu doutorado no Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA) e da Universidade de Wageningen, na Holanda. A bióloga juntou duas grandes bases de dados, uma de florística, em que mais de mil parcelas florestais foram inventariadas, das quais 12 Carolina contribuiu com dados. Além disso também foram utilizados bases de dados de mais de três mil sítios arqueológicos na Amazônia.
Carolina explica que plantas domesticadas são aquelas que passaram por um processo de seleção e propagação por mãos humanas.
"Os povos indígenas se apropriaram de algumas espécies úteis da floresta, e alguns indivíduos, que tinham características mais interessantes, como, por exemplo, frutos mais doces e maiores, foram trazidos para perto de suas casas e cultivados. Nesse processo se pode gerar uma mudança bem drástica na parte da planta que é selecionada", explica a bióloga.
A pupunha é outro exemplo que foi totalmente domesticada pelos povos indígenas pelo fruto e não pelo palmito. Em populações silvestres, o fruto pesa um grama, enquanto nas cultivadas hoje nos quintais, ele pode até pesar 200 gramas.
"Dessas 85 espécies domesticadas que a gente identificou na floresta, 20 são hiperdominantes, ou seja, dominam uma grande área de floresta na Amazônia. As espécies hiperdominantes foram identificadas num outro artigo em que se classificou e se constatou que em mais de 5 mil árvores que existem na floresta 227 correspondem à metade de todos os indivíduos que estão lá hoje."
A bióloga observa que as espécies domesticadas e hiperdominantes estão em maior concentração próximo dos sítios arqueológicos. Por isso, seria interessante tentar entender se diferentes grupos indígenas do passado dispersaram e selecionaram um grupo específico de espécies, tentando usar essas plantas como marcadores culturais.