'Países árabes moderados precisam mais de Israel do que Israel necessita deles'

CC BY 2.0 / Forças de Defesa de Israel / Soldados das Forças de Defesa de Israel durante treinamento de busca e resgate no sul do país
Soldados das Forças de Defesa de Israel durante treinamento de busca e resgate no sul do país - Sputnik Brasil
Nos siga no
Israel propôs à comunidade árabe criar uma aliança militar similar à OTAN para poder fazer face a seu inimigo comum, ou seja, ao Irã. Porém, a ideia de tal bloco pode pôr em uma situação incómoda não só a Arábia Saudita, mas também a Rússia, escreve o jornal russo Vzglyad.

Em 28 de fevereiro, o Ministério da Defesa israelense apelou a Riad e aos outros países sunitas para instituírem uma aliança defensiva na região.

A bandeira americana em um veículo vibra quando o sol se põe atrás da cúpula do Capitólio dos EUA nas horas antes de o presidente Barack Obama entregar o discurso do Estado da União a uma sessão conjunta do Congresso em Washington em 12 de janeiro de 2016 - Sputnik Brasil
Gambito no Oriente Médio: Washington pretende criar a 'OTAN árabe' para conter Irã
"Já chegou a hora de organizar uma aliança formal, uma coalizão de todas as forças moderadas do Oriente Médio, contra o terror", afirmou o ministro da Defesa do país, Avigdor Lieberman, à edição alemã Die Welt.

Segundo o titular da pasta israelense, "os países sunitas se dão conta de que a ameaça maior não provém de Israel e do sionismo, mas do Irã". Tal eventual aliança poderia integrar tanto muçulmanos como judeus e cristãos.

Na opinião de Lieberman, Israel poderia ajudar os países árabes com tecnologias militares e modernização dos seus exércitos.

"Para sobreviver, os países árabes moderados necessitam de Israel mais do que Israel necessita deles", indicou.

Mijail Feiguin, porta-voz do ministro da Defesa israelense, comentou ao Vzglyad que o mundo árabe entende que o Irã continua sendo o inimigo principal de todas as forças moderadas da região. Segundo disse o representante, existe a possibilidade de criar uma coalizão contra Teerã. Entretanto, por enquanto é difícil dizer que países poderiam integrar o bloco.

Segundo o especialista em problemas do Oriente Médio Konstantin Dudarev, a Arábia Saudita "se encontra em uma situação muito delicada frente à proposta de Israel". Ademais, indicou, embora "os interesses de Riad e Tel Aviv coincidam", ambos os países "continuam em condições de hostilidade".

"Uma aliança entre a Arábia Saudita e Israel seria encarada de forma muito negativa no mundo árabe. Seria melhor se a proposta viesse dos EUA", apontou Dudarev, frisando que "é pouco provável que Riad entre em uma aliança com Israel devido à possibilidade de perder seu papel do líder de todo o mundo muçulmano".

Além disso, o chanceler saudita Adel al Jubeir se recusou a comentar a proposta israelense, destaca o Vzglyad.

A ideia de criar "uma OTAN árabe" não é nova para os países do Oriente Médio. Assim, em março de 2015 os chanceleres dos países-membros da Liga de Estados Árabes aprovaram uma resolução sobre um "Exército árabe comum" com a participação dos países do Golfo Pérsico, Egito e Jordânia. No entanto, a iniciativa nunca chegou a ser realizada na prática.

Porém, algumas mídias americanas divulgaram a informação de que a administração de Donald Trump tinha começado negociações com os seus parceiros árabes sobre a instituição de uma aliança militar contra Teerã, no âmbito da qual Washington e Tel Aviv poderiam trocar os dados recolhidos por seus serviços secretos.

Sistema antiaéreo israelense conhecido como Cúpula de Ferro (Iron Dome, em inglês) - Sputnik Brasil
Israel testa sua 'Cúpula de Ferro' modernizada (VÍDEO)
Muitos analistas puseram em dúvida a possibilidade de criar tal bloco militar e acusaram Israel de divulgar informações falsas. Assim, Tel Aviv, que esperava por Washington para apresentar a iniciativa, "decidiu apelar aos países árabes e criar sua própria OTAN".

Outros especialistas não descartam a possibilidade de uma aliança temporária entre o Reino saudita e o Estado judeu, afirma o jornal russo. Por exemplo, segundo o cientista político Tofik Abbasov, "houve notícias de que tinham sido conduzidas negociações a portas fechadas entre as agências de inteligência dos países do Golfo e de Israel".

"Os países do Golfo têm cada vez mais medo do Irã. Apesar de não serem tão ricos, os iranianos dispõem de um exército mais eficiente e de maior capacidade de manobra no palco diplomático", sublinhou.

Entretanto, a ideia está longe de se tornar uma realidade, resumiu Abbasov. Caso o possível bloco tenha mais de dois membros, ele se converterá em uma plataforma para contradições internas entre as elites da região e não demorará a se desintegrar.

A Rússia, por sua vez, estaria contra a possível formação de uma "OTAN árabe" devido ao seu enfoque comum em cooperação e seus laços estreitos com Teerã.

"Se uma aliança militar na região for criada, a Rússia será obrigada a recorrer a todas as alavancas diplomáticas para prevenir confrontos armados abertos", concluiu.

Feed de notícias
0
Para participar da discussão
inicie sessão ou cadastre-se
loader
Bate-papos
Заголовок открываемого материала