Separatistas uigures são apoiados pelo Daesh. Entre 100 e 300 uigures foram para a guerra no Iraque e na Síria.
Não é excluída a possibilidade de que a marcha dos islamitas seja um desanuviamento internacional ao dar origem à aproximação entre os Estados Unidos de Donald Trump e as autoridades chinesas pela luta comum contra a ameaça islamita.
Islamistas em plantações de bambu
As tensões entre Pequim e islamistas muitas vezes escapam da atenção da imprensa. No entanto, durante as duas últimas décadas, a China afirma estar sendo atacada por terroristas e reclama que seus esforços na luta contra os muçulmanos radicais são subestimados. Um viveiro de confrontos entre modelo comunista e o modo de vida islâmico deu origem à região autônoma de Xinjiang Uygur da China. Pequim insiste que os moradores seguem as regras de habitação coletiva mundana no sentido estrito da palavra: não comemorar publicamente feriados religiosos, não vender álcool e tabaco em lojas. E afirma que grupos separatistas uigures têm ligações com Al-Qaeda (organização terrorista proibida na Rússia e em muitos outros países).
Ameaças dos islamistas vieram em época propícia. Após uma série de ataques brutais contra a China, Washington confirmou a intenção de reforçar os laços bilaterais. China e EUA têm excepcionalmente pouca agenda política comum, mas a oposição ao terrorismo internacional é postura de ambas as partes.
‘Vocês que não ouvem'
Vale ressaltar que esta não é a primeira vez que uigures aparecem em vídeos do grupo terrorista Daesh. Em 2015, islamitas publicaram o vídeo "lutador mais velho", que mostra um uigur de 80 anos de idade pronto para lutar por uma interpretação radical do Alcorão. Ao mesmo tempo, o Daesh chamou — no idioma uigur — todos os mulçumanos da China para se juntar à guerra na Síria. No entanto, parece que o vídeo atual não tenha sido promovido por chineses, pois o idioma utilizado no vídeo trata-se do árabe e não do idioma uigur.
O destinatário desta mensagem só pode ser as autoridades chinesas, que precisarão avaliar o estilo empolado dos islamitas: "Ei, vocês, chineses que não entendem o que as pessoas dizem. Nós — os soldados do Califado — vamos atrás de vocês. Vamos explicar para vocês no idioma das armas. Derramaremos rios de sangue para vingar os oprimidos".
Estado Islâmico sem o Iraque e o Levante
O ataque inesperado dos islamitas em relação a um dos inimigos mais distantes, que não diretamente age no Oriente Médio, veio no momento em que as posições do grupo claramente sofrem muitas perdas. Em 1º de março, o califa autoproclamado Ibrahim I (conhecido como Abu Bakr al-Baghdadi, no passaporte — Ibrahim Al-Badri) anunciou que seus seguidores só podem "correr e se esconder." Ao mesmo tempo, as tropas turcas conseguiram tomar a cidade de Al-Bab, e as sírias, com a ajuda de aviação russa — recuperar Palmira.
Todavia, é incerto o motivo das ameaças do Daesh à China. Mas uma coisa é óbvia: islamitas mais uma vez chamaram a atenção.