A batata é uma das culturas mais importantes na história de humanidade. Desde a propagação mundial na época colonial, esta raiz comestível tem salvado povos inteiros da fome, se adaptando a climas e áreas de cultivo diferentes. Já agora, esta capacidade de se adaptar pode levar a batata a Marte.
O projeto Batata em Marte, conduzido pelo Centro de Pesquisa Ames da NASA, pode torná-lo realidade em um futuro breve. O grupo da Universidade de Engenharia e Tecnologia do Peru (UTEC) imita as condições extremas de Marte para descobrir que espécies de batata podem pegar lá, disse à Sputnik Mundo o pesquisador da NASA Julio Valdivia-Silva.
Sendo que o projeto foi lançado há um ano, o especialista diz que a batata é um "candidato promissor", já que desde 1510, quando a cultura chegou da América para a Europa, ela se tem adaptado a todo um leque de condições climáticas.
Mas por quê em Marte? Julio Valdivia-Silva explica:
"Há 4 bilhões de anos e meio, Marte tinha condições de vida semelhantes às da Terra. Sabemos que lá houve oceanos de água em estado líquido, lagos e pequenos rios. A presença de água líquida e vulcões no planeta foi várias vezes objetivamente comprovada. Isto é importante, já que quer dizer que lá havia energia, lá havia água e, finalmente, há pouco foi provado que lá existiam também matérias orgânicas. Em resumo, temos todas as condições necessárias para a vida."
O cientista revelou também o processo de preparação do projeto, contando que ele é conduzido, principalmente, nas chamadas "áreas marcianas" da Terra, ou seja, em regiões parecidas ao planeta vermelho em uma série de critérios.
Além disso, tem a Antártida e a tundra russa, onde se pode encontrar o solo gelado parecido ao marciano, o deserto de Atacama no Chile e a estepe La Joya perto de Arequipa, no Peru. Todos estes lugares são usados pelos cientistas, que levam para seus laboratórios centenas de quilos de solo para imitar as condições marcianas.
"Para a surpresa de todos, duas espécies [de batata] conseguiram pegar neste solo de modo rápido e estável apesar das condições desfavoráveis, ou seja, seu alto nível de sal. Foi uma notícia inspiradora", contou o doutor.
Mas também há condições que não podem ser imitadas, tais como a gravitação, que é um terço menor da que há na Terra. "Para poder tomá-la em conta, temos que estar já em Marte ou, de um modo especial, controlar o aceleramento e as manobras de um satélite para nos aproximarmos das condições marcianas", prosseguiu. Porém, frisa o cientista, há provas de que a gravitação não é um fator muito importante neste processo e seu impacto é, de fato, mínimo.
Outro problema é a temperatura, que varia entre 70 graus negativos e 20 positivos.
"A temperatura média é 20 graus negativos. O nosso exemplar já pode aguentar 10 graus negativos, o que já é um recorde. Por outro lado, ninguém propõe semear batata em Marte jogando tubérculos por toda a parte. Mais provavelmente, nós precisaremos de algum tipo de cúpula para aumentar a temperatura um pouco", afirmou Julio Valdivia-Silva.
O simulador Cubesat, cuja construção custou à equipe apenas 3 mil dólares, funciona otimamente. Agora, quando os cientistas já têm um tipo de batata escolhido e capaz de se adaptar às respectivas condições, solo semelhante ao marciano e um simulador, a equipe deve observar a capacidade de sobrevivência da cultura. Aliás, qualquer pessoa pode também fazê-lo através de uma câmera web no portal da iniciativa.
Após terminarem todos os testes necessários, os cientistas da NASA planejam enviar a cultura ao planeta vermelho. Segundo o chefe do projeto, isto levará 5-6 anos.