O presidente sérvio, Tomislav Nikolic, convocou uma reunião de emergência do Conselho de Segurança do país dedicada à iniciativa do não reconhecido Kosovo para criar seu próprio exército sem fazer as respectivas alterações à Constituição, bem como à decisão do Parlamento do Kosovo de interromper o diálogo com Belgrado até à libertação do ex-primeiro-ministro do Kosovo Ramush Haradinaj. A reunião está marcada para 13 de março.
A Sputnik Sérvia entrevistou o chefe do Gabinete para o Kosovo e Metohija Marko Djuric.
SS: A iniciativa do presidente Kosovo Hashim Thaci sobre a criação das Forças Armadas complicou as relações, já de si difíceis, entre Belgrado e Pristina. Você esperava que Thaci, apesar das advertências da Sérvia e da OTAN, tentaria mesmo assim realizar a ideia de formação do Exército através da alteração da lei?
MD: A elite política separatista de Pristina teve a clara intenção, contrária à resolução 1244 do Conselho de Segurança da ONU e ao acordo de Kumanovo e contra a sua própria constituição, de fazer passar o projeto de lei ridículo que daria ao Corpo de Proteção do Kosovo, que é uma versão transformada da organização terrorista Exército de Libertação do Kosovo, o estatuto de uma espécie de exército no território da nossa província meridional. Claro que ele não seria um exército no sentido jurídico da palavra. Seria uma formação paramilitar ilegal, composta por antigos terroristas, cujo objetivo seria minar a segurança e a estabilidade na região dos Bálcãs, mas acima de tudo — dos nossos cidadãos no Kosovo e Metohija.
SS: O primeiro-ministro sérvio Aleksandar Vucic falou com Hashim Thaci, mas não conseguiu convencê-lo a abandonar este plano… Esta foi a primeira vez em que foi usado o "telefone vermelho" entre Belgrado e Pristina?
MD: Sérvia e seus representantes oficiais nunca evitaram falar com os representantes eleitos (pelo povo que habita a província sérvia do Kosovo e Metohija) dos albaneses. Se pensam que é fácil e agradável conversar com pessoas que ontem usavam uniformes militares e lutavam contra o nosso povo — isso não é assim. Mas estamos conduzindo um diálogo, porque nos sentimos responsáveis pela segurança dos sérvios no Kosovo, que agora, infelizmente, depende dessas pessoas em Pristina. Essas conversas, embora elas sejam pesadas e impopulares entre a população, são necessárias, e durante os quatro anos anteriores — devido ao fato de nós não termos evitado as negociações — pudemos prevenir muitos acontecimentos desagradáveis.
SS: Será que Thaci estraga suas relações com os EUA e a OTAN, e por quê? Ele tem novos aliados?
MD: É absolutamente óbvio que o regime político de Pristina empurra seu povo para um conflito com a Sérvia e os sérvios no Kosovo, o que é especialmente perigoso. Os representantes de Pristina acreditam que esta pode servir de resposta à pergunta sobre por que eles por mais de 16 anos não forneceram quaisquer condições de vida, sobretudo aos albaneses do Kosovo, apesar de eles gerirem todas as coisas. Durante todos esses 16-17 anos eles, sem a nossa intervenção e com grande apoio dos países ocidentais, têm gerido a economia — e eles têm 65% de desemprego.
SS: Thaci afirma que sua iniciativa é totalmente legítima e que a única ameaça para a região dos Bálcãs é o reforço da influência russa, e o Kosovo, de acordo com ele, é "o campeão da região na luta contra o terrorismo." Como você entende essas palavras?
MD: Estou muito satisfeito com esta declaração, eu acho que o Sr. Lavdrim Muhadzeri, um dos líderes do Daesh, originário do Kosovo, também está encantado. Eu acho que os milhares de combatentes do Daesh do Kosovo também estão contentes, várias centenas deles já retornaram à nossa província do sul em caixões. Acho que há um grande contraste entre as declarações de Thaci e a realidade.