Se o ajuste for efetuado, a Turquia se tornará o primeiro país da OTAN a receber o sistema de mísseis antiaéreos russos S-400, comunicou o Izvestia, citando o ministro russo da Defesa, Sergei Shoigu.
Sem dúvida, as capacidades militares do sistema são amplas. Mas uma série de analistas acredita que este contrato é mais importante do ponto de vista político do que militar. Segundo eles, Moscou pode obter outros ganhos com a transação.
🔴Agreement between #Turkey and #Russia#Russia to sell #Turkey S-400 long-range missile defense system
— Mete Sohtaoğlu (@metesohtaoglu) 15 de março de 2017
Segundo comunicou o porta-voz do presidente russo Dmitry Peskov, "as partes mantêm o interesse e vão continuar as negociações".
Objetivos comuns
Até agora a Rússia só assinou contratos de fornecimento de S-400 com a China. Pequim pretende adquirir cerca de 48 baterias de mísseis. Se planeja que o fornecimento se inicie já neste ano.
Além disso, estão sendo realizadas negociações com a Índia sobre a compra de cerca de 80 baterias de mísseis. Mas o contrato ainda não está assinalado.
"Sem dúvida, foi um incidente muito sério. Mas agora é preciso nos abstermos de emoções e olhar para o futuro. Hoje os nossos interesses geopolíticos são semelhantes. A Rússia e a Turquia percebem que é preciso pôr ordem na região do Oriente Médio, mergulhada na guerra. As relações próximas entre os dois países surgem não por causa das negociações, mas por causa dos objetivos comuns. Segundo, a venda destes sistemas beneficia uma maior aproximação. O comprador se liga ao país-produtor por um período longo no tempo, tendo em conta a necessidade de assistência técnica, de ensino de especialistas. A estreita cooperação técnico-militar não vai permitir que a Turquia realize quaisquer manobras políticas bruscas contra nós. Terceiro, a compra por um país da OTAN favorece a imagem dos produtos militares russos – não existe melhor promoção", comunicou à Sputnik analista militar Mikhail Khodorenok.
Falta de capacidades suficientes
"O principal rival da Turquia na região é o Irã. Este país tem uma força aérea bastante forte. Entretanto, o Irã pode se defender de um possível golpe de resposta porque a Rússia lhe vendeu 4 divisões de sistemas S-300 no ano passado. Além disso, Ancara tem péssimas relações com Damasco, que possui mísseis táticos de longo alcance, bem como mísseis tático-operativos. Os sistemas de defesa antiaérea da Turquia na verdade são fracos", acrescentou o analista Andrei Frolov.
A Força Aérea da Turquia está equipada com mísseis de médio alcance MIM-14 e MIM-23 norte-americanos e mísseis de curto alcance britânicos Rapier. Estes sistemas foram elaborados nos anos cinquenta-sessenta e são considerados hoje como obsoletos. Não é surpreendente que Ancara tente obter armas mais potentes.
Epopeia de mísseis
Em 2009 a Turquia iniciou o programa T-LORAMID (Sistema de mísseis antiaéreos de longo alcance da Turquia). O país anunciou uma licitação, na qual participaram a corporação norte-americana Lockheed Martin/Raytheon, a Rosoboronexport russa, a corporação Eurosam franco-italiana e a empresa chinesa CPMIEC. A última foi a escolhida, mas o acordo foi anulado em 2013 porque o lado turco insistia na obtenção do acesso completo às tecnologias do sistema, para criar o seu próprio análogo com base nele.
"Após isso, a Turquia se direcionou para produtores norte-americanos e europeus, a fim de obter mísseis Patriot e SAMP/T. Os produtores mostraram interesse pelo contrato, mas Ancara não deu nenhum passo além das negociações. No que se toca à compra dos S-400 russos, o lado turco abordou repetidamente essa questão, mesmo antes da deterioração das nossas relações. Na verdade, tenho dúvidas que venhamos a vender estes sistemas a eles. É mais provável que Erdogan esteja usando estas discussões para influenciar seus parceiros da OTAN e alcançar com esta chantagem condições mais proveitosas de compra de sistemas antiaéreos europeus ou norte-americanos", acrescentou Andrei Frolov.
"O fornecimento dos S-400 à China levou mais de 3 anos", esclareceu o analista Andrei Frolov. Ele tem dúvidas de que, no caso da Turquia, leve menos tempo.
#Turkey's Defense Minister Işık: S-400 missile systems (which will be purchased from #Russia) will not be integrated into #NATO's system
— Mehmet Çelik (@mcel0) 16 de março de 2017
Ele acrescentou também que as modificações de exportação dos S-400 têm caraterísticas mais fracas. Têm um menor alcance de deteção de aeronaves do inimigo, podem seguir e atacar simultaneamente menos alvos do que os sistemas russos originais.