Ernesto Alonso visitou pela quinta vez o arquipélago desde o final do conflito, em que participou como soldado conscrito. Para o argentino, que integra a Comissão Estadual da Memória de Buenos Aires (CPM), a ligação entre o continente e os insulares é fortemente condicionada pela presença militar britânica nas Malvinas.
"Estamos no lugar, que, acredito eu, é o território mais militarizado do mundo, pela quantidade de efetivos. Estamos falando de 3.000 civis e 2.000 militares em um lugar onde existe uma força que ameaça não somente a paz da Argentina, mas também a da região", disse Alonso ao correspondente da Sputnik Mundo, Nicolás Ayala.
De acordo com o ex-combatente, a base militar britânica situada no território do sul tem como fim "ser o instrumento do poder econômico" para a "exploração de recursos naturais", como a pesca e, "no futuro", os hidrocarbonetos.
No entanto, para o membro do CECIM, também significa "uma porta de entrada para a Antártida".
Alonso também indicou que a presença militar leva à limitação da informação que entra na ilha. Por exemplo, é "praticamente proibido de forma aberta trazer equipamento de televisão via satélite de outros países".
Por isso, "toda a informação é obtida através da BFBS, o sinal das Forças Armadas britânicas em todo o mundo".
No entanto, os ex-combatentes vão "continuar tentando estabelecer alguns laços" entre os ilhéus e o continente, que se romperam com o conflito armado de 1982. Antes da guerra, Alonso destacou que "havia uma comunicação contínua" e laços com a Argentina, como voos regulares, a presença de empresas estatais e de professores oriundos do continente.
"Infelizmente o que quebrou essa ligação entre a população da ilha com o continente foi o conflito armado e a ditadura militar. Estamos cansados de explicar que não foi uma decisão do povo argentino, mas a decisão de uma ditadura militar", disse Alonso.
Pouco antes da entrevista, o ruído e a coluna de fumaça que saiu da explosão programada de uma mina terrestre lembrou a proximidade do conflito. Alonso fazia parte do Regimento VII, "o qual teve o maior número de baixas" durante a Batalha de Monte Longdon. Por isso, o considera "um local da memória".
"Viemos aqui para levantar uma série de assuntos e um deles é a falta de justiça pelos crimes cometidos contra os próprios soldados argentinos pelas Forças Armadas Argentinas. Fizemos alguns pontos nos lugares onde sabemos que houve este tipo de tortura", explicou o ex-combatiente.
Entre as vexações a que foram submetidos os jovens argentinos por parte dos seus superiores, estão torturas em poços de água e enterramentos. Em muitos casos, a responsabilidade pela morte dos soldados "está na consciência das Forças Armadas argentinas".