Para o dirigente, é preciso separar, num primeiro momento, o que é investigação, os indícios coletados de autoria e materialidade, e a forma de divulgação. Segundo ele, houve um grande número de policiais envolvidos na operação, firmando posição sobre a ocorrência de crimes e quem seriam os autores. Outra coisa, na avaliação de Boudens, foi a forma de se anunciar a operação, inclusive dando interpretações de partes das informações que foram coletadas.
"Essa coisa da metodologia do estardalhaço midiático nenhum agente federal corrobora com esse tipo de posicionamento. A forma escolhida para anunciar os resultados de uma operação pode, sim, ter efeitos como aconteceram nos últimos dias. A reação do agronegócio foi utilizar a forma de exploração da operação até para antecipar uma defesa do mérito da questão. Aí começa a haver um conflito de informações. Nós da federação achamos que isso poderia ter sido evitado se pessoas experientes tivessem sido designadas principalmente nessa parte de comunicação com o público, com o Ministério Público para que se acertasse o momento ideal para se divulgar", diz o dirigente.
Boudens lembra que, como a questão envolve saúde pública, e isso envolve uma parte da economia do Brasil, o objetivo da polícia é jamais promover esse tipo de abalo. O objetivo segundo ele, é investigar, conseguir os indícios, encaminhar par o Ministério Público e torcer para que tudo seja aceito pelo Judiciário e que haja condenação dos envolvidos. O presidente da Fenapef observa porém que, se as denúncias recaíssem sobre outro setor da economia diferente do agronegócio, a reação não seria igual.
"O anúncio não seria feito da mesma forma com que foi escolhida, aquele aparato todo midiático que foi montado com certeza não seria o mesmo e as reações do setor também não seriam. Isso acaba gerando previsões de problemas para o futuro. Já tivemos operações antes dessa em que as figuras que encamparam a coordenação tentaram se projetar mais do que a própria operação e até abandonaram a eficácia do trabalho de apuração. Isso aconteceu na Operação Satiagraha." A operação foi deflagrada em 2004 contra o desvio de verbas públicas, a corrupção e a lavagem de dinheiro e que resultou na prisão, determinada pela 6ª Vara da Justiça Federal em São Paulo, de vários banqueiros, diretores de banco e investidores, em 8 de julho de 2008.
Boudens rebateu também as declarações do ministro da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Blairo Maggi, de que a operação criou "fantasias" sobre o setor de carnes. Segundo o dirigente, a defesa do ministro tem que ser ao mesmo tempo de ordem econômica e política. A crítica, conforme ele, tem uma razão de ser no exagero de algumas interpretações que foram dadas e anunciadas na coletiva de imprensa.
A Associação Nacional dos Peritos Criminais Federais (APCF) foi uma das entidades que criticaram o exagero da operação. Segundo a associação, as afirmações sobre "dano agudo à saúde pública não se encontram lastreadas pelo trabalho científico dos peritos da corporação. Também no Judiciário, ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) fizeram eco às críticas. Para o ministro Gilmar Mendes, houve uma disputa pela mídia.
"Um delegado decide fazer a maior operação já realizada no Brasil e anuncia que todos nós estaríamos comendo carne podre, e que o Brasil estava exportando para o mundo carne viciada. Por que ele fez isso? Porque no quadro de debilidade da política não há mais anteparos, perderam os freios. E não querem que se aprove lei de abuso de autoridade. Então, um mero delegado anuncia operação dessa dimensão porque ele vê o crime cometido na Procuradoria da República", disse o ministro.
Já o ministro Dias Toffoli disse ser preciso "evitar pirotecnias" nas operações policiais e afirmou que o Judiciário deve tomar cuidado ao manter o sigilo das diligências autorizadas.