Nesta sexta-feira, o ministro da Justiça, Osmar Serraglio, desmentiu que tenha interferido para evitar o fechamento de um frigorífico no Paraná, quando ainda deputado federal pelo PMDB. Serraglio também negou qualquer ligação com o agente Daniel Gonçalves Filho, atualmente preso pela Polícia Federal, por integrar o esquema, segundo as investigações.
O novo presidente da Comissão de Agricultura, Pecuária, Abastecimento e Desenvolvimento Rural da Câmara, o deputado federal Sérgio Souza (PMDB-PR) também é citado em grampos da Operação Carne Fraca como beneficiário do esquema. Ronaldo Sousa Troncha, ex-assessor de Sérgio Souza, disse em depoimento na PF que Serraglio participou da indicação de Daniel Filho para assumir a superintendência do ministério no Paraná. Ainda segundo o depoimento, isso aconteceu em 2008, quando o atual ministro ainda era deputado federal.
Parlamentares do PT e do PMDB, de dois dois maiores estados produtores de carne, Paraná e Mato Grosso do Sul, divergem sobre recebimento de benefícios e indicações políticas em postos-chaves nas áreas das superintendências estaduais e nos quadros de fiscalização sanitária. O deputado federal Ênio Verri (PT-PR) afirma que as investigações apontam nesse sentido.
"As pessoas recebiam esses cargos como forma de obter recursos para financiar a campanha desses parlamentares. O lado positivo é que se está mostrando que esse modelo eleitoral, de financiamento empresarial, tem muito de desonesto e precisa ser mudado. É importante que a polícia investigue o máximo possível até para descobrir o quanto o PMDB entregou ao ministro, também o PP, mas em especial o PMDB, partido de Michel Temer, que aplicou um golpe contra democracia no Brasil. Hoje seus ministros, a ampla maioria deles, estão envolvidos em denúncias. Fico me perguntando: se um ministro se torna ministro para depois cometer irregularidades ou se torna ministro porque cometeu irregularidades? Todo ministro que entra um dia depois se descobre que está envolvido em algumas denúncia" diz Verri.
O deputado Sérgio Souza, por sua vez, lembra que os ministérios são indicados por partidos, o que se replica nos estados. No Paraná, a agricultura estava sob comando do PMDB há uma década até ser substituído agora pelo PP, e neste período os deputados federais e senadores do PMDB é que sugeriam nomes que podiam ou não ser aceitos pelo ministro da Agricultura e mesmo assim após uma verificação da Agência Brasileira de Informação (Abin). Segundo o deputado, essa é uma praxe normal de todos os governos.
"Nesta última indicação do Daniel em 2015, eu já como deputado federal também assinei a indicação dele, assim como todos os deputados. Um ex-funcionário meu, que já tinha assessorado outro deputado em outros tempos, foi citado por ter recebido valores em 2009, 2010. Ele teve uma pena em processo administrativo, uma suspensão por nove meses e foi exonerado da superintendência", diz o parlamentar.
Souza conta que esse funcionário alegava perseguição política por conta da posição dele (Souza) e do Osmar Serraglio com relação ao impeachment da presidente Dilma Rousseff e foi aconselhado pelo parlamentar a buscar orientação jurídica. "Nunca tivemos nenhum envolvimento com frigoríficos e com tudo mais. Se ele achacava frigoríficos é problema dele, e vai ter que responder."
Outro parlamentar que vê exploração midiática do tema é o deputado federal Carlos Marun (PMDB-MS).
"É completamente pusilânime essa tentativa de envolver uma pessoa honrada como é o ministro Osmar Serraglio num escândalo absurdo como esse. O PMDB deveria inclusive processar as pessoas que estão fazendo esse tipo de ilação. Isso tem que ser reduzido ao que efetivamente é: um esquema de corrupção que envolve alguns funcionários concursados do Ministério da Agricultura. O equívoco que está sendo cometido por autoridades das nossas polícias e do nosso judiciário que tomou uma proporção muito maior do que tem e traz prejuízos para toda a população brasileira", diz Marun, que considera um absurdo uma investigação como essa levar dois anos.
O deputado também questiona as notícias de que há risco à saúde pelo consumo de carne não certificada.
"Você já ouviu de alguém falar que tenha tido uma dor de barriga por comer carne produzida no Brasil? Não. Isso deveria ter sido comunicado há dois anos ao Ministério da Agricultura, ter sido feita uma inspeção nesses frigoríficos e terem sido afastados esses fiscais. O erro da nossa Justiça é trabalhar om a ideia de que mais importante do que o fato é a versão, mais importante do que a prova é a notícia. Isso começa a acontecer num setor importante da economia e que trará perdas irreparáveis", diz Marun, lembrando quer, por conta da crise, dos sete maiores frigoríficos de Mato Grosso do Sul seis foram fechados.