A divulgação de trechos do depoimento do empresário Marcelo Odebrecht ao Ministro Herman Benjamin, relator no Tribunal Superior Eleitoral das ações que pedem a cassação da chapa Dilma-Temer na eleição presidencial de 2014, causou intensa repercussão.
Não só pelo conteúdo do que foi revelado como, principalmente, pelo fato de que as revelações decorreram de vazamentos, prontamente criticados pelo próprio Ministro Herman Benjamin como também pelo presidente do Tribunal Superior Eleitoral, Ministro Gilmar Mendes.
Entre outras citações, Marcelo Odebrecht disse ao ministro do TSE que Dilma Rousseff tinha pleno conhecimento de que sua campanha de 2014 foi abastecida com recursos provenientes de Caixa 1 e de Caixa 2.
De sua parte, a ex-presidente emitiu nota oficial, afirmando que jamais tratou do assunto com Marcelo Odebrecht, sendo totalmente inocente de tais acusações.
Para o cientista político Leonardo Paz, analista de Inteligência da Fundação Getúlio Vargas no Rio de Janeiro e professor de Relações Internacionais do Ibmec/Rio, não foi surpresa o conteúdo das declarações atribuídas a Marcelo Odebrecht:
"De certa maneira, já era esperado o que Marcelo Odebrecht poderia revelar ao Ministro Herman Benjamin, do Tribunal Superior Eleitoral. Ele disse que havia alertado a então Presidente Dilma Rousseff de que o dinheiro fornecido pelo grupo Odebrecht para sua campanha eleitoral de 2014 era proveniente de Caixa 1 e de Caixa 2. Se a presidente sabia ou não, é algo que não poderemos ter certeza, embora ela própria garanta que jamais tratou do assunto com Marcelo Odebrecht. Mas o fato é que já se esperava por algo assim, partindo do empresário, inclusive pelo volume do dinheiro envolvido tanto em Caixa 1 como em Caixa 2."
Leonardo Paz considera ainda prematuro tirar qualquer conclusão sobre o desfecho do julgamento pelo Tribunal Superior Eleitoral das ações que pedem a impugnação e consequente anulação da chapa Dilma —Temer no pleito de 2014, devido às denúncias de recebimento de dinheiro de origem escusa:
"Ainda há muita coisa para ser provada a partir das delações. Mas é indiscutível que estas delações têm servido como ferramentas para a política nacional, abrindo uma caixa (não sei nem mais qual é a cor dela) que não se pode sequer enxergar o fundo. Mas esse risco de o TSE cassar a chapa existe. Até porque, pelo que se sabe através da mídia, a linha de comportamento do Ministro Herman Benjamin, relator dessas ações no Tribunal Superior Eleitoral, induz à suposição de que ele poderá votar pela cassação da chapa. E se a chapa for cassada o Presidente Michel Temer será inevitavelmente afetado."
Por sua vez, o cientista político Carlos Eduardo Martins, professor da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), entende ser necessário adotar cautela com o que foi divulgado sobre as revelações de Marcelo Odebrecht:
"Precisamos ter muito cuidado com o que tem sido revelado. Tudo que se sabe através destas delações é proveniente de vazamentos. Então, o que se tem é o estabelecimento de que a Presidente Dilma Rousseff teve a sua campanha de 2014 abastecida com recursos de Caixa 2 e se procura preservar o então vice-presidente e hoje Presidente Michel Temer. São portanto revelações que precisam ser tomadas com certo cuidado e que não apresentam nenhuma prova. São falas de Marcelo Odebrecht que se tornam públicas após quase dois anos de sua prisão e que estão dentro de um certo espírito da Operação Lava Jato de buscar uma punição seletiva para os integrantes do PT e do Governo petista. Então, a meu ver, isto tem de ser visto com uma certa cautela, porque cai muito sob encomenda da atual situação. Busca-se preservar o Michel Temer e culpabilizar a Dilma Rousseff."
Carlos Eduardo Martins enfatiza o fato de que as revelações atribuídas a Marcelo Odebrecht surgiram quase dois anos após a sua detenção decretada pelo Juiz Sérgio Moro, da 13.ª Vara Federal Criminal de Curitiba, no Paraná, responsável pela Operação Lava Jato:
"O que me parece é que estas declarações de Marcelo Odebrecht são muito mais um fato político do que documental, uma vez que ele não apresenta provas do que diz. Entendo que há, neste momento, um anseio muito grande para que sejam combinadas determinadas forças políticas."