Ex-jogador do clube de futebol mais popular do país, Bruno estava no auge da sua carreira quando foi preso pelo sequestro, cárcere privado, assassinato e ocultação de cadáver da modelo Eliza Samudio, em 2010. Julgado três anos depois, foi condenado a 22 anos e três meses de prisão. Mas, em fevereiro passado, através de uma liminar deferida pelo ministro Marco Aurélio Mello, do Supremo Tribunal Federal, ele conseguiu um habeas corpus e foi libertado, após cumprir seis anos e sete meses da pena.
Depois de ser solto pelo STF, goleiro Bruno que cumpriu menos de 1/3 da pena a que foi condenado, é contratado pelo Boa Esporte Clube. pic.twitter.com/THbAwWVodh
— Agora Sabe (@agorasabe) 10 de março de 2017
Após o seu julgamento, em 2013, a defesa do atleta havia entrado com um recurso contra a sua condenação, que, até hoje, não foi analisado. Foi com base nisso que seus advogados entraram com o pedido de soltura.
"A esta altura, sem culpa formada, o paciente está preso há 6 anos e 7 meses. Nada, absolutamente nada, justifica tal fato. A complexidade do processo pode conduzir ao atraso na apreciação da apelação, mas jamais à projeção, no tempo, de custódia que se tem com a natureza de provisória", disse o ministro do STF ao conceder a liberdade ao goleiro.
Em outro caso polêmico, o Superior Tribunal de Justiça (STJ) expediu uma liminar, na última sexta-feira, autorizando a advogada Adriana Ancelmo, ex-primeira dama do Rio de Janeiro, a cumprir prisão domiciliar, pouco mais de três meses depois de reclusão no Complexo de Bangu, na Zona Oeste da capital fluminense.
Presa em dezembro, no âmbito da Operação Calicute, por corrupção, lavagem de dinheiro e organização criminosa, Ancelmo conseguiu o direito de aguardar o seu julgamento em casa após a decisão de um juiz federal no último dia 17. Mas, o Ministério Público (MP) recorreu e a decisão acabou sendo cassada.
Nesta segunda-feira, dia em que a advogada poderia voltar para o seu apartamento (a expectativa agora é a de que ela retorne nesta terça-feira, 28), um grande número de manifestantes foi protestar perto do seu prédio, uns pedindo a revogação da liminar do STJ e, outros, direitos iguais para todas as detentas em situações parecidas. Essa última reivindicação, sobre direitos iguais, também foi feita por muitos daqueles que se queixaram da libertação do goleiro Bruno. Embora tanto ele quanto a ex-primeira dama tenham sido, em situações diferentes, beneficiados por dispositivos legais, legítimos, a questão que boa parte dos críticos coloca é "por que não agir da mesma forma em todos os outros casos como esses"?
Desde que recorreu da sua condenação até o momento de receber o habeas corpus, Bruno passou quatro anos em prisão preventiva, fato considerado injustificável por um ministro do STF mas comum entre tantos outros presidiários que, longe dos holofotes, passam às vezes ainda mais tempo nessa situação. Adriana Ancelmo, há menos de quatro meses atrás das grades, já está "livre" para gozar de um benefício que, como destacou o desembargador Abel Gomes, milhares de outras detentas, também mães, não tiveram e provavelmente não terão ao longo de outros meses, anos ou décadas.