"O fato de se ter uma política de exportação significa que grande parte do que se investirá ou do que se investe vai ser compensada por vendas externas", afirma Godoy. "Agora veja só: o Brasil tem uma tradição nisso. Inclusive, essa orientação do Itamaraty é dos anos 80, da época em que o Embaixador Paulo Tarso Flecha de Lima era chefe do Departamento de Promoção Comercial [do Ministério das Relações Exteriores] e o Brasil tinha naquela ocasião – e depois veio a perder – uma muito ativa indústria de fornecimento de material militar."
Segundo o Instituto Sou da Paz, que obteve os informes sobre os estímulos à venda no exterior das armas e equipamentos militares brasileiros, o Ministério das Relações Exteriores enviou a todas as Embaixadas, em 6 de dezembro de 2016, um documento orientando os chefes de missões diplomáticas a promover nos países em que estão acreditados seminários e eventos com o objetivo de implementar os negócios com material bélico fabricado no Brasil.
Países da Europa, Ásia, África e Oriente Médio são apontados pelo Itamaraty como as áreas preferenciais para a realização de negócios militares.
Neste aspecto, Roberto Godoy indica quem são, atualmente, os maiores compradores de equipamentos bélicos brasileiros:
"Os principais clientes do Brasil hoje no setor de equipamentos militares estão no Oriente Médio e na Ásia. Então você tem hoje usuários de equipamentos como lançadores de foguetes Astros II e Astros 2020, da Avibras Aeroespacial, que são considerados os melhores equipamentos do seu tipo, dessa categoria, no mundo. Por quê? Porque eles são considerados como uma engenhosa solução de país pobre. A maioria dos concorrentes lança um tipo de foguete. Se você quiser o lançador para outro tipo de foguete, não pode, embora o fornecedor possa entregar outro tipo de lançador. Essa solução brasileira é assim: você tem as mesmas carretas lançadoras, o mesmo sistema digital lançador, a mesma infraestrutura eletrônica, porém você pode lançar três tipos diferentes de foguetes e um míssil com até 300 quilômetros de alcance, o que não é pouca coisa. Isso faz dele um sucesso de vendas muito grande. Cada bateria, cada conjunto lançador tem seis veículos, e aí você pode ter o carro-comando. Mas, enfim, é esse [Astros] talvez o mais sofisticado e o mais avançado equipamento exportado pelo Brasil."
Roberto Godoy acrescenta que, além dos foguetes Astros, outros sucessos de vendas nacionais para o exterior são armas leves como revólveres, pistolas, carabinas e a munição correspondente a estas armas.
O jornalista especializado em assuntos militares também informa que o Brasil segue um padrão internacional para manter o controle de vendas de seus equipamentos militares a fim de evitar que eles sejam revendidos a outros países, especialmente os que estão vivenciando situações de conflitos. De acordo com convenções, cada país comprador assina um Certificado de Usuário Final (Ender User, na denominação em inglês), o que o impede de renegociar equipamentos, armas e munições adquiridos do Brasil. O controle é exercido pelos Ministérios da Defesa e das Relações Exteriores e pela própria Presidência da República.