Sistemas americanos Patriot na Polônia: o 'amor fraterno' não é gratuito

© AFP 2023 / JOHN MACDOUGALLSoldados alemães diante de um sistema antiaéreo Patriot em Kahramanmaras, Turquia
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Polônia está disposta a gastar 35 bilhões de dólares (cerca de 109 bilhões de reais) na modernização de suas Forças Armadas. O valor é enorme, considerando que a dívida externa do país é superior a 350 bilhões de dólares (mais de 1 trilhão de reais). Mas tudo isso se justifica para lutar contra a mítica "ameaça russa".

Nove bilhões de dólares. Este é o valor, igual ao orçamento militar anual, que a Polônia terá que gastar com as "relações especiais" que tem com os EUA. Basta relembrar que se trata apenas de um episódio.

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Varsóvia se mostrou disposta a celebrar um contrato sobre o fornecimento de sistemas de mísseis antiaéreos Patriot. Este acordo não tem precedentes na novíssima história da Polônia. Mas tudo serve para lutar contra uma mítica ameaça russa que já se tornou em uma espécie de crença primitiva, em algo como uma inquietação profunda e inexplicável.

Entretanto, seria mais adequado se a natureza deste fenômeno fosse explicada pelos médicos da respetiva especialidade. Basta ressaltar que, ainda durante a fase de preparação do contrato para licitação da compra das armas, se dizia que os complexos devem combater eficazmente o sistema russo Iskander.

Os participantes europeus do concurso acabaram por perdê-lo, enquanto os americanos saíram vencedores. Neste caso, o papel-chave foi desempenhado, claro, não apenas pelas caraterísticas técnicas do Patriot, mas também pelo rumo da política atual. Ao fornecer uma encomenda "choruda" ao seu "grande irmão" verdadeiro e principal e não a um aliado secundário qualquer, se pode contar com sua especial atitude benevolente. E, ao mesmo tempo, demonstrar que Varsóvia, de forma dócil e impecável, cumpre os desejos de Washington, que apela persistentemente, se não mesmo obriga, os países-membros europeus da OTAN para que paguem mais para o tesouro comum. Ou seja, aqueles malditos 2% do PIB.

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Além disso, este contrato é uma maneira muito oportuna de agradar pessoalmente a Donald Trump, apoiante do desenvolvimento da indústria americana, inclusive a militar, bem como o autor da ideia simples de que a Europa deve pagar ela própria pela sua segurança. Porém, o cenário ideal seria que as armas, neste contexto, fossem compradas aos EUA.

Por isso, neste sentido a Polônia está pretendendo um papel de aluno aplicado e responsável. Ou seja, aparentemente, em termos políticos, ganham todos. Porém, Varsóvia, estando cegada pelas vantagens tão evidentes, não se preocupa em analisar como é que a economia nacional vai reagir a essas despesas enormes. E, além disso, quanto dinheiro será preciso para manutenção e assistência dos sistemas americanos, levando em conta que cada míssil compatível com eles custa 3 milhões de dólares (cerca de 9 milhões de reais).

A propósito, no total a Polônia planeja gastar 35 bilhões de dólares com a modernização das suas Forças Armadas. Porém, os europeus também vão receber seu pedaço deste bolo. Por exemplo, os franceses "tiveram sorte". Eles vão participar do processo no decorrer do qual a Polônia se vai tornar em uma grande potência marítima. Mas claro que isso não será de graça. Será ao preço de muitos bilhões de euros.

Varsóvia anunciou seus planos para comprar e construir submarinos e navios de superfície em cooperação com Paris. Mas isto se faz para não ofender os seus vizinhos da região europeia comum. De qualquer maneira, parece que a maior parte dos lucros das compras militares acabará nas mãos de Washington.

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Ao longo de todos os últimos anos, a elite polonesa tem feito todo o possível para se tornar no principal amigo europeu da administração de Barack Obama, em um árbitro-chave nos assuntos europeus. Pelo menos para a Europa do Leste, em primeiro lugar.

E Varsóvia estava perto como nunca deste objetivo. Mas aconteceu uma "coisinha" inesperada, uma sensação: surgiu Donald Trump. Primeiramente, as autoridades polonesas não sabiam como reagir a esse fato incrível e imprevisto. Mas, pelos vistos, conseguiram se orientar. Decidiram atacar Washington com encomendas.

Vão continuar pedindo à OTAN para que lhes envie os militares americanos "supereficientes", acompanhando tudo isso com elogios e cortesias abundantes. E pedir cada vez mais, sem ligar ao fato dos EUA considerarem abertamente a Polônia como uma moeda de troca no "jogo" com a Rússia, e como um posto avançado de operações militares que não terá muito valor caso se dê um conflito grande. Por isso, a economia polonesa pode aguardar, pois os politiqueiros locais têm mais coisas a fazer.

Ilia Kharlamov para o serviço russo da Rádio Sputnik

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