Segundo os interlocutores do The Independent "o governo deu este passo após a chegada de Trump para a Casa Branca e as expectativas de que a sua administração melhoraria as relações com o presidente russo Vladimir Putin".
Assim, Bruxelas já apresentou a Londres a variante mais dura, demorada e dispendiosa de saída da UE, enquanto o presidente do Conselho Europeu, Donald Tusk, tentou ainda pôr em questão a soberania do Reino Unido sobre Gibraltar. Tusk propôs dar a Espanha o direito de veto na questão das relações comerciais entre Gibraltar e a União Europeia. Em resposta, o principal ministro de Gibraltar, Fabian Pikardo, disse abertamente que o dirigente da UE "tem um comportamento semelhante a um marido enganado pela mulher".
Deputados votam pelo diálogo
Segundo o The Independent, a "decisão de Londres de cooperar mais estreitamente com o Kremlin surgiu ainda no início de março, quando Boris Johnson estava pronto para se tornar o primeiro ministro britânico das Relações Exteriores a visitar a Rússia nos últimos cinco anos". Estava planejado discutir tais questões como a situação na Síria, na Líbia e na Ucrânia.
A ordem em que estas decisões ocorreram é bastante significativa: primeiro Tillerson altera a sua agenda e os ministros da OTAN se adaptam depois aos seus planos. Entretanto, segundo o The Independent, a visita de Johnson a Moscou vai ser efetuada dentro de algumas semanas.
Várias mídias britânicas já escreveram que Johnson não tem muita vontade de visitar Moscou, mas que o seu círculo político e o partido quase que o "obrigam" a fazê-lo.
Incidentally, Rex Tillerson and Boris Johnson are both due to travel (separately) to Moscow next week #Syria
— Claire Phipps (@Claire_Phipps) 7 de abril de 2017
Aqui vale a pena lembrar os dois relatórios públicos. O primeiro é o relatório especial recentemente publicado pelo Conselho do Partido Conservador sobre o Oriente Médio, que recomenda à Grã-Bretanha desenvolver as relações com militar líbio Khalifa Hafter, que não é reconhecido na UE, mas controla o oriente do país e coopera com a Rússia.
O segundo é o relatório do comitê internacional da Câmara dos Comuns sobre o estado das relações entre a Rússia e a Grã-Bretanha. A principal conclusão do documento é que Grã-Bretanha necessita do diálogo com a Rússia, mesmo nas questões onde a sua posição se é diametralmente oposta à russa.
Urso russo e leão britânico
Mas nem todos em Londres estão prontos para este compromisso. Por exemplo, o ministro britânico Michael Fallon advertiu há pouco a Rússia quanto à sua política ativa na Líbia: "Não queremos que o urso ponha as suas patas de novo no país".
"O que é que eles têm desenhado no escudo? Se não me engano, é um leão. Existe um provérbio antigo: todos os leões são gatos, mas nem todos os gatos são leões. Cada um que trate das suas coisas. Não acho que, no seu jardim zoológico, eles tenham um animal que possa mandar no urso", acrescentou Sergei Shoigu.
É pouco provável que as recentes acusações relativamente aos ataques químicos na Síria por parte de Washington, Londres e Paris contribuam para o diálogo.
#Russia MoD #Shoigu responds to his #UK counterpart Fallon's comments on #Libya pic.twitter.com/4kg5T9V5uL
— RussianEmbassy Malta (@RusEmbMalta) 22 de fevereiro de 2017
"A minha posição em relação à Síria e a Bashar Assad mudou muito", disse Donald Trump. Moscou, por seu lado, acrescentou que a responsabilidade de Assad não está provada e que ele é acusado infundadamente. Este é o principal ponto da divergência não só entre a Rússia e os EUA, mas também entre a Rússia e a Grã-Bretanha.