Se você é um animal e é inteligente, você, provavelmente, não é um molusco. Claro que os humanos, golfinhos, baleias, porcos e corvos — todos eles têm cérebros grandes e altamente organizados, bem como medula espinhal para enviar as mensagens neurais para os membros.
No entanto, segundo diversos critérios, o polvo aparentemente não deveria ser inteligente. Seu cérebro tem apenas uma vigésima parte dos neurônios dos humanos, ademais, eles não são centralizados em um cérebro na cabeça. Em vez disso, estas criaturas têm um cérebro em miniatura na base dos seus tentáculos.
Entretanto, o polvo tem memória tanto a curto prazo como a longo prazo. Ele é capaz de resolver labirintos e outros problemas simples. Várias vezes foi observado que os polvos usam diferentes instrumentos e constroem coisas. Embora se conheça bem suas capacidades, os cientistas têm se esforçado por entender por que tal inteligência extraordinária se manifestou exatamente nesta criatura.
Uma nova pesquisa da Universidade de Tel Aviv (TAU) em Israel e do Laboratório Internacional de Biologia Marinha parece dar resposta a esta pergunta. Foi revelado que os cefalópodes são capazes de corrigir seu ARN (ácido ribonucleico) muito rapidamente, possibilitando as adaptações rápidas para os desafios de ambiente.
Porém, os "trabalhadores da construção" não são obrigados de seguir o plano escrupulosamente, e o ARN nem sempre faz exclusivamente aquilo que o ADN manda. Este processo se conhece como "a edição do ARN" e cada organismo o efetua em alguma medida, para responder à pressão do ambiente.
"Por volta de 25 anos atrás, a humanidade verificou o primeiro exemplo de edição do ARN nos mamíferos. Houve vários casos em que o ADN dizia uma coisa, enquanto a proteína real estava diferente", disse Eli Eisenberg, coautor do estudo e biofísico na Universidade de Tel Aviv.
"Para nós, quanto temos um gene, seu código pode geralmente ser modificado através de uma mutação. É a imagem geral da evolução, no âmbito da qual a mutação serve para adaptar a proteína às necessidades do organismo. Mas quando você muda o ADN, é conectado. Você muda-o, e pronto", partilhou.
Eisenberg também disse que os humanos têm cerca se 1 mil zonas do nosso código genético que podem ser sujeitos à edição do ARN — mas a maior parte destas zonas se localiza ao longo daquilo que se chama um ADN "lixo" e não serve para cifrar nada. A provável edição de 100 zonas de ARN nos faria bem.
O mais provável é que a edição do ARN aconteça no tecido cerebral, garantindo às espécies uma flexibilidade enorme de adaptação.
"Você poderia editar o ARN em um tecido, digamos, no cérebro, e não em outro, como os músculos, por exemplo", explicou Eisenberg. "Você pode ter proteína velha produzida sob condições normais, e uma nova produzida em uma situação de estresse. Você pode editá-lo ou não conforme os níveis variáveis e ter uma versão tanto editada como não editada na mesma célula, trabalhando juntas", precisou.
A questão aqui é que um ARN mais flexível significa um ADN menos flexível. O ADN se altera mais ao longo das gerações do que nos limites de um só organismo. Em outras palavras, se vários polvos são melhor equipados para responder à pressão do que os humanos, as espécies em geral responderiam de modo ainda mais lento.
Eisenberg afirmou estar entusiasmado a continuar o estudo sobre cefalópodes com o fim de entender melhor esta sua capacidade especial. Ainda não está claro se é precisamente a edição do ARN que garante a inteligência dos polvos, mas isto "definitivamente é a minha hipótese", frisou o pesquisador da Universidade de Tel Aviv, Noa Liscovitch-Brauer. "A meu ver, esta é uma hipótese convincente", adiantou.