Segundo o especialista, os países da América Latina não têm consciência da penetração e do modo de funcionamento da organização jihadista, porque "não lidam com suas próprias informações," e não entendem este grupo terrorista a partir de sua perspectiva ideológica e doutrinária.
Sapag acredita que a concentração de Daesh apenas no Oriente Médio é uma noção "errada e enganosa", criada pelos países ocidentais para "desviar a atenção pública" de sua política "desestabilizadora" no Iraque, Síria e Líbia.
"O Daesh aboliu referências territoriais de sua sigla, porque possui ambições globais. Agora eles estão lutando na Síria e no Iraque, mas não vão desaparecer. Eles vão passar a agir em células ou como lobos solitários", disse o especialista em guerra.
Os serviços de inteligência na região, por exemplo, já alertaram sobre, pelo menos, uma centena de latino-americanos que viajaram nos últimos quatro anos para o Iraque e Síria para se juntar às fileiras da estrutura terrorista.
De acordo com Sapag, o continente americano é propício para a conversão de radicais islâmicos, porque "as práticas religiosas da região não estão conectadas à elementos culturais ligados à construção de identidades nacionais".
No Chile, ele cita o caso do jovem chileno-norueguês Bastián Alexis Vasquez, que em julho de 2015 apareceu em um vídeo proclamando a destruição das fronteiras entre o Iraque e a Síria.
O pesquisador observa que o Daesh é uma comunidade global, que está presente em todo o mundo. Segundo ele, a América Latina é "receptiva" e integra com facilidade crenças e costumes estrangeiros. "Por isso, não seria improvável que em 10 a 15 anos a comunidade sunita adquirisse uma presença importante na região".
Sapag explicou que os sunitas são a corrente majoritária do Islã, onde o Daesh busca recrutar as os mais radicais. Seria errado, porém, segundo o professor, vincular essa corrente majoritária muçulmana ao terrorismo.