Em entrevista exclusiva para a Sputnik Brasil, o antropólogo, professor de Ciências Policiais e ex-instrutor do Bope (Batalhão de Operações Especiais da Polícia Militar do Rio de Janeiro), Paulo Storani, diz que a situação no tráfico internacional de drogas e armas já assola o Brasil há mais de uma década e para evitar essa ação de criminosos que dá força ao tráfico de drogas no Rio de Janeiro é preciso fortalecer as fronteiras do país, além de políticas públicas de combate a esse tipo de comércio ilegal de armamentos.
"A vulnerabilidade das nossas fronteiras e falta de uma política pública brasileira no sentido de coibir esse tráfico, que na verdade é que produz a grande violência, principalmente as armas de fogo, e o fuzil de assalto, que são armas de guerra. Se nós pensarmos que não existe nos países vizinhos ao Brasil onde há ou falta de uma legislação ou uma omissão por parte das autoridades em relação a comercialização de armas, principalmente essas armas de guerra, nós também não temos nenhuma ação da nossa política brasileira e de relações internacionais, o próprio Itamaraty nunca fez pelo menos nos últimos 30 anos qualquer ação junto a esses governos, no sentido de promoverem ações conjuntas para coibir esse comércio."
Para o especialista, a Polícia Federal também não tem uma infraestrutura que consiga fechar as fronteiras terrestres e marítimas para pelo menos reduzir as ações do tráfico de drogas e armas. "Você tem mais hoje pessoas da Polícia Federal empregadas para coibir contrabando e descaminho do que drogas e armas. Normalmente quando atuam no contrabando acabam encontrando na mesma carga as drogas e armas junto. Atuam de uma maneira indireta, mas mesmo assim o efetivo é mínimo. A Polícia Federal em termos de efetivo um número reduzido para atender a demanda que já é muito grande, não quer dizer que a Polícia Federal não queira é porque ela não tem infraestrutura para isso."
Segundo Storani, "nunca houve o interesse por parte do Governo Federal em criar uma Polícia Nacional de Fronteiras com toda a estrutura necessária exatamente para dar o suporte a uma fiscalização minimamente efetiva para diminuir o tráfico, principalmente, de armas, mas também de drogas que gera toda a violência em torno dela."
Como uma solução de curto prazo o ex-instrutor do Batalhão de Operações Especiais da Polícia Militar do Rio de Janeiro acredita que as forças militares do Exército e da Marinha para guarnecer as fronteiras terrestres e aquáticas do Brasil. "No curto prazo seria a solução mais inteligente e viável, porque já existe uma estrutura pronta, já existem muitas unidades das forças armadas próximas a essas fronteiras, que poderiam ser mobilizados."
Outra preocupação apontada por Paulo Storani é a possibilidade do contrabando de parte do arsenal usado pelas FARC – Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia estejam sendo contrabandeadas para o Brasil, aproveitando a fragilidade da segurança nas fronteiras do país. Oficialmente, as FARC tinham se comprometido a entregar suas armas para a ONU. "Quando começou o desmantelamento das FARC em razão do início das negociações, já de pronto houve uma preocupação de nós aqui no Brasil, que parte de todo aquele arsenal usado nas guerras localizadas entre as FARC e as Forças Regulares da Colômbia pudesse ser desviado porque se tornaria moeda de troca, para aquele grupo que agora não precisava mais de um grande arsenal. É uma preocupação muito grande, mas como não há um interesse do Mercosul pelo menos aparentemente em atuar nesse segmento, limitam-se a questões econômicas e políticas nós ficamos a mercê em situações como esta que estão acontecendo com as Farc."