Qual é a probabilidade de um cenário de uso pelos EUA da força militar contra Pyongyang? Quais serão as consequências da escalada do conflito para a situação na região e no mundo em geral? O especialista militar russo Vasily Kashin respondeu a essas perguntas em comentário à Sputnik China.
Atualmente, em duas diferentes partes do mundo estão se desenvolvendo de forma sincronizada duas crises político-militares extremamente perigosas, nomeadamente, em torno da Síria e da República de Coreia do Norte. A situação atual não tem precedentes por causa da mudança completa do modelo de funcionamento da administração dos EUA e da reação dela às situações de crise. Nos últimos dias, Washington violou todas as regras não escritas, que se formaram durante os quase 55 anos que passaram desde a Crise dos Mísseis de Cuba.
No caso da Síria e no caso da Coreia, a administração de Trump demonstrou uma mudança total de rumo em poucas semanas. A respeito da Síria, ela entrou em contradição com as numerosas declarações do presidente Trump sobre a prioridade da luta contra o Daesh e a renúncia à mudança do regime na Síria.
No caso da Coreia do Norte, a administração ainda em março declarou a renúncia à doutrina antiga de “paciência estratégica” em relação a este país, e já no início de abril começou a pressão de força mesmo sem elaborar e discutir uma nova estratégia.
Numa época nuclear é extremamente importante que todos os países envolvidos em crise sinalizem suas intenções e objetivos.
Nos momentos difíceis da Guerra Fria, na elaboração das declarações importantes da parte dos EUA, bem como de outros países, participavam os principais especialistas políticos e diplomatas e militares experientes. Entretanto, grande atenção era prestada a uma linha política clara e não contraditória.
Agora, na questão da Síria nós vemos contradições evidentes entre os diferentes altos funcionários da administração.
Na questão de Coreia nós vemos declarações de Trump sobre a disposição de “resolver de forma autônoma” a questão do programa nuclear de Coreia e o aparecimento na mídia de informações, que se contradizem entre si, citando fontes próximas da administração americana.
Em uns casos há o discurso sobre um ataque imediato contra a Coreia se a China não bloquear economicamente este país, em outros – sobre a prioridade das tentativas para uma solução política.
O avanço do porta-aviões USS Carl Vinson e seus navios de escolta para a beira da Coreia pode ser uma resposta à ausência de acordos positivos para os EUA a respeito da Coreia do Norte durante as negociações de Trump e Xi Jinping. Numa situação normal, este movimento seria visto como uma simples demonstração de força típica americana. Mas agora podemos falar sobre o extremo perigo de um conflito militar na península coreana, que vai afetar todos os países do Nordeste da Ásia, incluindo aliados dos EUA.
Mas tendo em conta o ataque repentino contra a Síria e a caótica retórica belicosa de Washington, as leis e regras antigas não se aplicam mais. Entretanto, a administração Trump, que ainda não terminou a sua formação, não tendo uma estratégia clara e não tendo estabelecido uma interação entre os diferentes departamentos dentro de si própria, parece estar tentando alcançar resultados rápidos e decisivos com passos ameaçadores mal planejados.
O novo tipo de política norte-americana e a ameaça de repetição de tais novas ações imprevisíveis e perigosas terão consequências graves. Outros grandes jogadores internacionais, incluindo a Rússia, China e vários outros países, terão que mudar radicalmente seu planejamento militar, o que vai tornar o nosso mundo mais perigoso