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'Desafio da Baleia Azul' avança no Brasil e reacende debate sobre o suicídio (VÍDEO)

© Foto / CC0 Public DomainPílulas associadas ao suicídio
Pílulas associadas ao suicídio - Sputnik Brasil
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Pelo menos dois casos registrados nesta terça-feira em duas cidades diferentes do Brasil podem estar relacionados a um jogo virtual conhecido como ‘Desafio da Baleia Azul’, que teria surgido em uma rede social russa e cujo principal objetivo é incentivar o suicídio do participante.

Os registros reabrem o debate sobre os limites entre o real e o virtual e a ocorrência do suicídio entre jovens no país.

Na Paraíba, a polícia investiga denúncias que envolvem alunos de uma escola de João Pessoa. De acordo com o coordenador do Centro Integrado de Operações Policiais da Paraíba (Ciop), coronel Arnaldo Sobrinho, os estudantes já teriam realizado “tarefas” de automutilações previstas no Desafio da Baleia Azul – são 50 desafios, um a cada dia, sendo o último desafio tirar a própria vida.

Já na cidade mato-grossense de Vila Rica, a 1.276 quilômetros da capital Cuiabá, uma adolescente de 16 anos foi encontrada morta em uma lagoa. As primeiras informações colhidas pela polícia junto a parentes da vítima apontaram para a participação dela no mesmo jogo virtual. Se confirmada a relação, a morte é a primeira no Brasil envolvendo o Desafio da Baleia Azul.

“Preliminarmente será analisado o jogo virtual citado e quem induziu ou instigou o suicídio, ou se foi uma deliberação da própria vítima”, disse ao jornal Hoje em Dia o delegado André Rigonato, responsável pelo caso de Mato Grosso.

Depressão e suicídio

Os dois casos reacenderam o debate envolvendo depressão e suicídio entre jovens no Brasil. A depressão atinge 300 milhões de pessoas em todo o mundo, de acordo com dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) – só entre 2005 e 2015 esse número subiu 18%. Os dados são ainda mais alarmantes quando se fala em suicídio: cerca de 800 mil pessoas tiram a própria a vida a cada ano no mundo, sendo essa a segunda principal causa de morte entre pessoas de 15 a 29 anos.

Ainda conforme apontam dados da OMS, o Brasil ocupa a oitava posição entre os países com mais registros de suicídio no planeta. Dados de 2012 mostram que 11.821 pessoas tiraram a própria vida no país, sendo 9.198 homens e 2.623 mulheres. O Brasil só aparece atrás de Índia (258 mil óbitos), seguido de China (120,7 mil), Estados Unidos (43 mil), Rússia (31 mil), Japão (29 mil), Coreia do Sul (17 mil) e Paquistão (13 mil).

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Ainda no que diz respeito a suicídio no país, o dado mais recente do Ministério da Saúde é de 2014 e dá conta que 10.600 pessoas tentaram o suicídio – uma taxa média de 5,6 por 100 mil habitantes, quase metade da média mundial (11,4 por 100 mil). O grupo de risco entre brasileiros está na faixa etária entre 15 a 29 anos. As principais causas de quem tira a vida no país estão relacionadas a transtornos mentais como depressão, transtorno bipolar, esquizofrenia, ou a dependência de drogas.

De acordo com especialistas, o que o Desafio da Baleia Azul faz é servir como estopim para jovens que já enfrentam problemas psicológicos e emocionais.

“Pessoas fragilizadas por eventos traumáticos, isoladas emocionalmente, que possuem dificuldade em confiar ou que se sentem cobradas e exigidas em demasia são mais propensas a desenvolver quadros depressivos que as tornam alvos fáceis para esse tipo de manipulação”, avaliou o sociólogo André Sobral ao site Tecmundo. “Quanto maior o sofrimento vivido pelo indivíduo, mais sedutora é a proposta de se sentir vivo através de desafios, a provocação da ideia da morte como um jogo”.

Ameaças

Levantamento feito pelo Tecmundo mostrou que dados pessoais disponíveis na Internet alimentam criminosos virtuais que lançam mão de iniciativas como o Desafio da Baleia Azul. Em tom de ameaça, eles usam as informações para cooptar participantes entre crianças e jovens – muitas vezes essa busca por vítimas se dá justamente em sites e grupos que abrigam pessoas com depressão e outros problemas psicológicos.

Conhecido como ‘curador’, o controlador do jogo envia diariamente para os participantes, ao longo de 50 dias, sempre às 4h20, uma mensagem com um determinado desafio. A prova de que o desafio foi cumprido deve ser postada nas redes sociais do jogador. Vários desafios envolvem majoritariamente automutilação. A 50ª e última tarefa é uma só: tirar a própria vida.

As primeiras notícias a respeito do Desafio da Baleia Azul surgiram após uma reportagem de 2016, do jornal russo Novaya Gazeta (Jornal Novo, em português). Segundo a própria investigação da publicação, grupos secretos inseridos na rede social VKontakte estavam sendo espaço de persuasão de jovens para tirarem a própria vida, exercendo pressão psicológica em meio a aventuras sinistras. O jornal estimou que mais de 100 mortes poderiam ter relação com o desafio somente na Rússia.

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No Brasil, há dezenas de grupos que defendem o acolhimento a pessoas com depressão e o combate ao Desafio da Baleia Azul. Entretanto, há relatos nas redes sociais de que esses mesmos grupos vêm sendo invadidos por entusiastas e controladores do jogo.

Julgamentos

Mortes de participantes de desafios online não são mais incomuns até mesmo no Brasil. Em outubro do ano passado, um jovem de 13 anos fã de "League of Legends" morreu após ser desafiado por outros jogadores do jogo chamado "Choking Game" ou "Jogo do Desmaio". A sua morte acabou sendo transmitida ao vivo para os demais participantes.

Para o psiquiatra Neury José Botega, da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), um dos erros é a tentativa de banalização dos mecanismos que alguém possa usar para chamar a atenção de outras pessoas.

“Não se deve banalizar ou julgar a tentativa como um recurso para chamar a atenção. Na vida conturbada de um adolescente, o ato precisa ser tomado como um marco a partir do qual se iniciam ações destinadas à proteção e à qualidade de sua vida, incluídas as de saúde mental”, comentou, em entrevista à revista Claudia.

A falta de discussão acerca do problema é um dos obstáculos a serem superados, segundo a ONU. “A prevenção não tem sido tratada de forma adequada devido à falta de consciência do suicídio como um grave problema de saúde pública. Em diversas sociedades, o tema é um tabu e, por isso, não é discutido abertamente”, informou a entidade em comunicado.

À Agência Brasil, a coordenadora da Comissão de Combate ao Suicídio da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP), Alexandrina Meleiro, comentou que é preciso falar mais sobre o assunto, reduzindo o acesso a meios de execução do ato, acompanhado de ajuda profissional. Por fim, a atenção básica de saúde precisa fazer a sua parte, o que ainda não ocorre no país.

“O paciente com perfil suicida precisa de pessoas com familiaridade com o assunto. Muitas vezes uma palavra não positiva pode detonar o gesto suicida, cada vez mais o profissional tem que estar familiarizado com o assunto para ter a possibilidade de mudar um destino que poderia ser trágico daquele paciente”, afirmou.

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