Ao invés de mostrar locais turísticos como no "Follow Me To", o Teto Brasil apresenta fotos alertando sobre a realidade das pessoas que vivem nas favelas brasileiras. A campanha foi criada pela agência Leo Burnett (Brasília), com fotos de Paulo Barros.
Na versão brasileira as fotos da campanha "Venha Transformar a Nossa Cidade", mostram os moradores das favelas onde o Teto atua desenvolvendo projetos sociais, convidando a todos como se tivessem os puxando para dentro das suas comunidades para que, juntos, trabalhem pela transformação e construção das cidades.
O Teto foi criado no Chile e está presente em 19 países. No Brasil, a organização está completando 10 anos trabalhando em defesa dos direitos de pessoas que vivem nas favelas, visando reduzir a vulnerabilidade dessas pessoas através do engajamento comunitário. No Rio de Janeiro, a ONG chegou em 2013, e atua em sete comunidades: Jardim Gramacho, Vila Beira Mar e Parque das Missões, em Duque de Caxias, na Baixada Fluminense; Canal do Anil, Portelinha, Guarany e Vila Kennedy, na Zona Oeste da cidade.
Em entrevista exclusiva para a Sputnik Brasil, a diretora de sede do Teto no Rio de Janeiro, Ellen Guimarães explicou que o Teto utilizou a ideia da campanha do fotógrafo russo Murad Osmann para alertar sobre a violação de direitos e desigualdade que existe nas comunidades brasileiras num contraponto com o projeto "Follow Me To".
"A nossa proposta é realmente envolver as pessoas em toda essa realidade de desigualdade que vemos no nosso país. O Follow Me To traz esses lugares exuberantes, uma paisagem rica e estamos convidando todos a verem que existe um outro lado de tudo isso, que muitas pessoas tem os direitos violados, que não tem acesso a esse mundo deslumbrante, e convidando a ver essa realidade e transformar junto toda essa realidade que vemos hoje, que é a proposta do Teto."
Nesses 10 anos no Brasil, o Teto já trabalhou em mais de 100 comunidades, construiu mais de 2500 casas emergenciais, desenvolveu cerca de 30 projetos comunitários e mobilizou mais de 30 mil voluntários. "O Teto é uma organização internacional, estamos em toda a América Latina, e o objetivo é o desenvolvimento comunitário e a defesa dos direitos dessas comunidades," contou Ellen.
Segundo a diretora da sede do Teto no Rio de Janeiro, a organização atua nas favelas brasileiras com vários projetos, um deles é a construção de casas emergenciais. "Tem projetos que são totalmente gerenciados pelo Teto, por exemplo, a construção de moradias de emergência, onde assinamos um contrato com as famílias e constrói uma moradia para elas. Tem uma outra atividade chamada Eco de sentar com os moradores e entender o contexto daquela comunidade aplicando um questionário com eles, levantar depois um diagnóstico das principais violações ali dentro."
Existem ainda os projetos trazidos pelas próprias comunidades como a construção de uma Biblioteca, na comunidade Jardim Gramacho e a reforma de uma quadra de esportes, na Vila Beira Mar.
"Como a proposta do nosso trabalho é ser realmente um trabalho em conjunto e funcionar como uma ferramenta para a comunidade, existem equipes que estão todos os finais de semana nas comunidades, que sentam com os moradores para pensar e ver que problema a comunidade acredita que é o mais grave que precisa ser solucionado. Cada comunidade traz a demanda e o Teto entra realmente como uma ferramenta de tentar mobilizar os moradores, de trazer eles e transformar a realidade que eles vivem."
De acordo com Ellen Guimarães, além de trabalhar para desenvolver as comunidades junto com seus moradores, o Teto ressalta ainda a importância de se mostrar na prática que a cidade não deve ser dividida ou segregada entre a favela e o asfalto e mostrar que todos devem trabalhar juntos em prol da construção de uma cidade mais igualitária e integrada. "A nossa proposta é que todo mundo realmente se enxergue como todos tendo os mesmos direitos e podemos sim transformar o que está muito aquém de ser uma vida digna legalmente. O acesso a moradia, saneamento básico, a saúde, porque só uma parcela da população tem hoje esses direitos. Estamos buscando que essa desigualdade diminua e que o acesso que deveria ser de todos passe a se estender para todos os moradores das comunidades e que todos tenham esses direitos plenamente exercidos."
Além das fotografias, a organização convoca nos dias 5,6 e 7 de maio, para uma grande mobilização dos mais de 10 mil voluntários para estarem nas ruas das cidades de São Paulo, ABC (SP), Santos (SP), Campinas (SP), Rio de Janeiro, Duque de Caxias (RJ), Niterói (RJ), Curitiba (PR) e Salvador (BA) para a ação chamada "Coleta", que segundo Ellen é o maior evento massivo de mobilização do Teto, onde além de denunciar a violação de direitos vivida diariamente por 11 milhões de pessoas nas favelas do Brasil, também é feita a arrecadação de recursos para que a ONG possa dar seguimento ao desenvolvimento de projetos sociais nas mais de 40 comunidades onde atua no país. "É o momento onde o voluntariado vai para as ruas de todas as cidades para denunciarmos essa situação de pobreza que vemos no país e chamar o público para trabalharmos juntos, conhecer nossa causa e contribuir financeiramente com nosso trabalho. Todo dinheiro que arrecadamos nesses dias com a Coleta é para que nossos projetos continuem tendo andamento."