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Sangue no campo: assassinatos de sem-terras expõem as vísceras do país

© Fábio Pozzebom/Agência Brasil/FotosPúblicasTrabalhadores sem-terra protestam contra mortes de dirigentes em todo o Brasil
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Em pouco mais de uma semana, dez trabalhadores rurais e lideranças sem-terra foram assassinados no Brasil, mostrando o recrudescimento desses crimes nos últimos anos. Reportagem do jornal francês Le Monde revela que o Brasil é recordista mundial nessas práticas, com 207 pessoas eliminadas de 2010 a 2015 em conflitos pela posse de terra.

Citando estatísticas da ONG Global Witness e as 61 mortes contabilizadas só em 2016 pela Comissão Pastoral da Terra (CPT), o Le Monde lembra de mortes emblemáticas que tiveram repercussão internacional, como as do sindicalista Chico Mendes, em 1988, e de missionária Dorothy Sang, em 2005. De Norte a Sul e de Leste a Oeste, praticamente não há hoje uma única região brasileira que não registre mortes ou conflitos entre fazendeiros e grandes proprietários de terras. Esse número só vem crescendo e ano para ano, conforme a 31ª edição do relatório da CPT que reúne números da violência contra trabalhadores rurais, indígenas, quilombolas e outras minorias. Se em 2016 foram 61 assassinados, em 2015 foram 50  —  o maior número então nos últimos 12 anos — e 36 em 2014.

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Em entrevista exclusiva à Sputnik, Rafaela Alves, da coordenação nacional do Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA), diz que o aumento das mortes no campo nos últimos meses é fruto de "uma situação de golpe, de um acirramento de luta de classes, da disputa de uma direita que não se conforma em ver trabalhadores conquistando direitos". Segundo a dirigente, isso tem um custo muito alto para a vida dos trabalhadores que pagam com a própria vida. Rafaela lamenta que, no momento em que se lembra o Massacre dos Eldorado dos Carajás, no Pará, que completou 20 anos no último dia 17, se veja mais camponeses sendo assassinados no país. 

"A gente sempre vive situações de muita repressão à luta dos trabalhadores, mas numa conjuntura como essa, de golpistas no governo e que se sentem empoderados com possibilidade de bloquear toda possibilidade de avanço para os trabalhadores, o caminho vai ser a morte, as armas, a contratação de capangas para executar bem seus projetos. Nesse momento eles também estão trabalhando a necessidade da estrangeirização das terras do Brasil. Se eles ameaçam um projeto da classe trabalhadora, ela também vai se mobilizar e alimentar suas lutas históricas. A terra continua sendo um elemento de grande disputa no país", diz a integrante do MPA.

Para a ativista, as mortes de integrantes do Movimento dos Trabalhadores Sem-Terra (MST) ocorridas nos últimos meses é fruto da disputa a cada dia maior pela posse de terra. De um lado os pequenos produtores tentando manter sua agricultura de subsistência e, de outro, os grandes empresários do agronegócio e da mineração que tentam incorporar novos espaços para aumentar exportações. Rafaela afirma que é obrigado do Estado investigar e punir a autoria dessas mortes, mas isso não é feito, uma vez que, ao longo da história, muitas autoridades foram omissas ou coniventes nesses assassinatos.

"Agora saímos do 31 de Março lembrando a tarefa histórica de manterem sempre viva as datas de 31 de março e 1º de abril como um dia de luta pela memória. Ninguém nunca esqueceu o que foi o Golpe de 64 e o tanto de assassinatos e repressão de mortes que aconteceram de trabalhadores no campo e na cidade por conta da ditadura militar. O Estado brasileiro nunca assumiu sua culpa, sua responsabilidade por esses assassinatos. Aqueles que cometeram esse tipo de crime continuam impunes, com altos salários ao se aposentaram e recebem dinheiro do povo brasileiro. Na época da ditadura militar, mais de 1.196 camponeses foram assassinados ou desaparecidos e o Estado só reconhece 29", dispara a integrante do MPA, para quem a impunidade só estimula a continuidade dessas práticas no campo.

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