Quaisquer que sejam as diferenças na visão do mundo entre as pessoas de idades diferentes, na Rússia a Grande Guerra pela Pátria (parte da Segunda Guerra Mundial, compreendida entre 22 de junho de 1941 e 9 de maio de 1945, e limitada às hostilidades entre a União Soviética e a Alemanha nazista e seus aliados) é algo que une as gerações e todas as classes sociais.
Infelizmente, passados 72 anos do grande Dia da Vitória, há cada vez menos veteranos que viram os horrores da maior carnificina do século XX com seus próprios olhos e conseguiram voltar à Pátria. Porém, esta memória ainda existe e é perservada em todos os russos, até nos mais novos.
Importa destacar que o número de vítimas na URSS, tomando em conta a população civil e as chamadas "fossas" demográficas, somou 40-41 milhões de pessoas, segundo as últimas pesquisas. É mais que em qualquer outro país e dá uma ideia de quão colossal foi a dimensão da tragédia do povo soviético na época.
Grande Vitória impregna toda a cultura
Ao longo de várias décadas, tem sido criado um conjunto de obras que, para todos os russos, das crianças aos adultos, simboliza o terror da guerra e a coragem dos militares soviéticos que, com a ajuda dos aliados, fizeram com que o mundo fosse libertado da horrorosa praga do nazismo.
Primeiramente, são as canções militares, que raramente deixam o russo indiferente. Entre elas estão as melodias que se compunham na própria época da guerra para elevar o moral de combate dos militares e civis, bem como as composições que surgiram após a tomada de Berlim e o fim do maior conflito militar no século passado.
Tradicionalmente, estas canções patrióticas marcam a Parada da Vitória anual, sendo interpretadas pela orquestra militar conjunta na Praça Vermelha.
Uma das canções mais emblemáticas do dia 9 de maio se chama precisamente "Dia da Vitória", é frequentemente interpretada pelos mais conhecidos cantores russos durante os concertos festivos e, claro, soa na Praça Vermelha no dia da parada.
A canção foi composta em 1975 pelo compositor David Tukhmanov e pelo poeta Vladimir Kharitonov nas vésperas do 30º aniversário da Vitória. Na composição, há várias estrofes simbólicas, inclusive aquela que diz "O Dia da Vitória é uma festa com olhos cheios de lágrimas", que retrata o sentimento nacional de gratidão e dor aos heróis da guerra.
Outra marcha, batizada como "Guerra Sagrada", por sua vez, traz em si o espírito de bravura, de unidade e sacrifício, foi composta em 1941, com o início de guerra, e lança à nação um apelo: "Levanta-te, enorme nação, levanta-te para o combate mortal com a força tenebrosa fascista, com o jugo detestável".
Uma das canções mais líricas e comoventes compostas na época da guerra reflete a dor da separação dos soldados das suas famílias e se chama "Noite Escura".
A letra fala da carta que um soldado soviético envia do campo de batalha para sua namorada e diz: "Nesta noite escura, sei que você, minha querida, não dorme, mas se senta junto ao berço e seca lágrimas escondidas".
Outra canção que liga o amor e a guerra é a famosa "Katyusha" que, apesar de ter um tom bastante alegre, fala sobre uma moça que está separada de seu namorado e espera que ele volte das "terras distantes".
Além disso, para as famílias russas já virou uma tradição assistir aos filmes militares nas vésperas de 9 de maio, tanto mais que todos os canais principais tradicionalmente transmitem as obras clássicas sobre Grande Guerra pela Pátria, produzidas tanto na URSS como na Rússia atual. Estes filmes retratam as façanhas do povo soviético, levantado contra o monstro do fascismo alemão, a dimensão da ajuda mútua e unidade nacional na época e a escala da tragédia que abalou todas as famílias soviéticas sem exceção.
Símbolos e cerimoniais da Vitória
Um dos símbolos mais comuns do Dia da Vitória na Rússia é a chamada Fitinha de São Jorge, ou seja, um pedaço de tecido com faixas negras e cor de laranja com as quais as pessoas costumam enfeitar os casacos, mochilas ou automóveis. Não é um símbolo heráldico, mas apenas um objeto simbólico, embora seja parecido com o bicolor da Fita de São Jorge que acompanha a Ordem, a Cruz e a Medalha de São Jorge.
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— Юлия Сапронова (@usapronova) 28 de abril de 2017
В городахРоссии начали раздаватьГеоргиевские ленточкиСимвол ДняПобеды вВеликойОтечественной войне1941-1945г pic.twitter.com/sJRSUX1RcT
Em 2005, por iniciativa da Sputnik e um conjunto de organizações estudantis, foi lançada uma iniciativa que se mantem até hoje e consiste na distribuição maciça destas fitinhas nas ruas das cidades russas para que todas as pessoas possam se sentir ligadas à celebração nacional e prestem homenagem aos veteranos.
Há 3 anos, surgiu outra tradição, o Regimento Imortal, que logo conquistou não só os russos, mas também os cidadãos dos outros países, mesmo os mais distantes. A ação consiste de uma marcha popular, durante a qual todos os participantes portam placas com fotos e nomes dos seus familiares que participaram da Grande Guerra pela Pátria.
Na Rússia e em vários outros países participantes da guerra, há um fenômeno cultural que poucos conhecem — a Chama Eterna, ou seja, uma chama (inserida geralmente em um monumento) que nunca se apaga em homenagem às vítimas da guerra. Em quase todas as cidades russas, tradicionalmente perto das ruas centrais, há um complexo memorial com esta chama, aonde as pessoas trazem flores, quase sempre cravos, durante o ano todo.