O Dia da Vitória tem sido sempre uma data muito simbólica para o povo russo. Nessa data especial, todas as gerações de russos se sentem unidas por uma emoção única e, provavelmente, por uma que só uma pessoa russa pode entender plenamente.
Até hoje, no país não há uma única família que não tenha sido afetada pela Grande Guerra pela Pátria (parte da Segunda Guerra Mundial, compreendida entre 22 de junho de 1941 e 9 de maio de 1945, e limitada às hostilidades entre a União Soviética e a Alemanha nazista e seus aliados).
E, tradicionalmente, o céu na verdade costuma estar claro neste dia. Para assegurar a passagem segura de batalhões e equipamentos, bem como para a apresentação da aviação, equipes especiais costumam dispersar as nuvens na manhã da parada. Porém, este ano o ciclone que se abateu sobre a capital nas vésperas do desfile foi tão forte que nem os especialistas o conseguiram fazer parar.
Em 8 de maio, as ruas de Moscou se cobriram de poças e neve branquíssima que nem no mês de janeiro. No dia seguinte, para alegria dos cidadãos, ela já tinha derretido. Mas imaginem só se ela ficasse como pano de fundo durante a passagem das "estrelas" do desfile de hoje, os equipamentos de defesa antiaérea "árticos", isto é, os mísseis antiaéreos Tor-M2DT e sistemas de mísseis e artilharia antiaérea móvel Pantsir-SA! Parece ser uma combinação perfeita.
Assim, o tempo hoje não foi nada daquilo que se esperava. Na Praça Vermelha havia vento e estava chuviscando, mas isso não chegou para estragar os festejos cerimoniais. As pessoas, aquecidas pelos sons grandiosos das canções patrióticas que todo o russo conhece, dos mais novos aos mais idosos, encheram toda a praça em um ímpeto comum. Além disso, o dia nebuloso de hoje fez lembrar o do glorioso 9 de maio de 1945, em que o desfile mais importante na história do país decorreu debaixo de chuva.
As tribunas estavam lotadas: por tradição, a Parada da Vitória não é um evento comercializado e, consequentemente, conta com participação dos veteranos, suas famílias e jornalistas. Porém, é muito triste ver que cada ano os banquinhos nos quais ficam os veteranos da Guerra ficam cada vez mais vazios. Com a passagem do tempo há cada vez menos deles e a próxima geração, infelizmente, já não terá oportunidade de agradecer aos seus heróis pessoalmente.
Uma das partes mais comoventes e fortes do ponto de vista emocional é o momento da revista aos batalhões efetuada pelo ministro da Defesa russo, Sergei Shoigu. A tradição é a seguinte: o ministro saúda e parabeniza os batalhões, um a um, pelo sagrado Dia da Vitória. Estes, por sua vez, lhe respondem com a exclamação russa "Urrra!" (sinônimo mais próximo em português seria "Viva!") que quer dizer enlevo, animação e alegria.
Ao ouvir este coro sonoro de vozes, uma pessoa se transporta mentalmente ao ano de 1945 e imagina como os jovens militares, que passaram todos os horrores desta guerra sangrenta e desumana e conseguiram voltar a casa, gritavam este entusiástico "Urrra!" com sentimento único de felicidade.
Um dos elementos indispensáveis da parada são as composições interpretadas pela orquestra. Por exemplo, a canção que abre o desfile, a "Guerra Sagrada", traz um apelo ao povo soviético para se levantar contra o inimigo e reflete toda a dimensão da coragem e sacrifício dos militares e civis da época, prontos para quaisquer façanhas em um ímpeto comum para defender a Pátria.
Outra tradição inalienável do evento é o discurso do líder do país, no qual ele costuma reanalisar a importância da Vitória, agradecer aos veteranos e elogiar a façanha eterna do povo soviético. Neste ano, Vladimir Putin, em tom expressivo e cheio de gratidão, afirmou que a Rússia nunca "se esquecerá que a liberdade da Europa e a paz há muito esperada no nosso planeta foram conquistadas pelos nossos pais, avós e bisavós". Além disso, o presidente russo assegurou que os jovens militares de hoje estão prontos, tal como seus antepassados, para rechaçar qualquer agressão vinda de fora, sendo que "não existirá uma força capaz de escravizar o povo russo".
A Parada da Vitória de 2017 foi marcada pela enorme quantidade de participantes jovens, inclusive cadetes de várias instituições militares de ensino superior e de colégios militares. Seu entusiasmo e responsabilidade em sua preparação faz com que os russos estejam convictos que temos uma força que defenderá a Pátria caso seja necessário. Isto é notado também pelos próprios veteranos: durante a Parada, eles nem sempre conseguem conter as lágrimas, não só pela comoção, mas também pelo orgulho por seus netos.
Esta mensagem refere tanto o respeito dos russos pela façanha dos seus antepassados, como a prontidão para cumprir seu dever se isso for necessário. Mas uma coisa é certa — qualquer que seja a coragem do Exército, todos os russos vivem e continuarão vivendo com um anseio comum no coração: que esta guerra nunca se repita.