A análise é de Eduardo Crespo, professor de Economia Política Internacional da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), que falou com exclusividade à Sputnik Brasil. Para o especialista, à exceção das preocupações com o momento político na Venezuela, a maioria dos governos da América Latina está hoje mais alinhada ideologicamente com os Estados Unidos do que há alguns anos. Para isso, em muito contribuíram as trocas de governo no Brasil, com posse de Michel Temer após o impeachment da presidenta Dilma Rousseff, e em países importantes, como no Peru, presidido pelo empresário Pedro Kuczynski, no Paraguai (Horácio Cartes) e na Argentina, por Maurício Macri, que pôs fim a uma década e meia de peronismo.
O encarregado para América Latina no Departamento de Estado americano, Francisco Palmieri, revelou as diretrizes básicas que serão perseguidas pelos EUA na gestão de Trump. A prioridade é aumentar a segurança, fechando passagens para redes criminosas transnacionais, promover a soberania americana na região e aumentar as exportações de bens e serviços ao mesmo tempo em que se proteja os direitos de propriedade intelectual. Hoje, os EUA exportam para a região três vezes mais do que vendem para China, Japão e Índia juntos.
Para o professor da UFRJ, tais diretrizes não se diferenciam muito das traçadas por Obama durante seus dois mandatos.
"A primeira impressão é que se trata de um anúncio formal que estabelece um pouco do sempre. No tema da segurança, há um tipo de direção um pouco mais clara, mais ou menos na linha do que está sendo feito na Colômbia. Para a América Latina, especialmente a Centro-América e México, é muito importante a política de Trump no que se refere ao tema da imigração e controles. Para a América do Sul, não vejo muitas novidades e nem dá para esperar grandes mudanças", observa Crespo.
Na opinião do especialista, a América do Sul não tem um espaço de peso na agenda de preocupações americanas. Crespo recorda um episódio ocorrido durante a viagem do presidente Maurício Macri a Washington, onde Trump, durante uma coletiva, ironizou os esforços do presidente argentino em aumentar a exportação de limão para os EUA. Crespo reconhece, porém, que no caso da Argentina a eleição de Macri ajudou a destravar a situação financeira do país em relação aos credores internacionais, que passaram a ser mais flexíveis.